sexta-feira, maio 19, 2006

Por detrás do pano

N
o passado dia 12 Maio, em Viena, Áustria, o Secretário Geral das Nações Unidas (ONU), Kofí Annan, criticou a decisão tomada pelo Presidente boliviano, Evo Morales, de nacionalizar os hidrocarbonetos. Justificou a sua opinião dizendo que, esta decisão deve pensar-se e deve ter em conta o carácter globalizante do mundo, uma vez que esta medida pode colocar em registo as relações comerciais internacionais. Estas palavras, provenientes da pessoa que ocupa o mais alto cargo da ONU, pode parecer à primeira leitura, uma incoerência, mas se atendermos aos aspectos que descortino a seguir, ficaremos completamente esclarecidos do porquê desta tomada de posição.
O artigo 97.º da Carta da ONU estabelece que “o Secretario Geral será nomeado pela Assembleia Geral, por recomendação do Conselho de Segurança”, candidato que deve contar com a aprovação dos seus membros permanentes que exerçam o direito de voto. É bem verdade que nenhuma proposta alguma vez tenha sido formalmente vetada, mas também é bem verdade que, sempre todos os candidatos tiveram de passar pelo “filtro” da aceitação dos Estados Unidos e dos outros membros permanentes. Por exemplo, a reeleição de Butros Ghali, foi bloqueada pelos Estados Unidos, que impuseram Kofi Annan, inclusivamente indo contra o costume de nomear rotativamente um Secretário Geral originário de diferentes regiões.Kofi Annan sabe que deve o cargo aos Estados Unidos e empenha-se em mostrar o seu reconhecimento, com reiterados gestos de submissão e obediência, para o que até tem um certo jeitinho particular, entre outras coisas, como consequente defensor do poder económico transnacional. Em 25 de Julho de 2000, na sede da ONU, em Nova Iorque, Kofi Annan presidiu à inauguração do Pacto Mundial (Global Compact) onde participaram 44 grandes sociedades transnacionais e mais alguns “representantes da sociedade civil”. O Global Compact tornou-se uma instituição permanente que funciona junto à Secretaria da ONU, criando uma perigosa confusão entre uma instituição política pública internacional como a ONU, que segundo a Carta representa a “os povos das Nações Unidas...” e um grupo de entidades representativas dos interesses privados de uma elite económica internacional. São várias as sociedades participantes no Clobal Compact, algumas delas com densos “currículos” em matéria de violação dos direitos humanos, dos trabalhadores, do meio ambiente e de corrupção de funcionários públicos. Esta “sociedade” foi anunciada por Kofi Annan num documento apresentado à Assembleia Geral, intitulado: “A capacidade empresarial e a privatização como meios de promover o crescimento económico e o desenvolvimento sustentável”. Este documento proposta, continha um objectivo claro: todas as grandes empresas rentáveis devem estar monopolizadas pelo grande capital transnacional, ou seja, pretende legitimar a política praticada à escala mundial de desfazer as empresas públicas rentáveis (por vezes mediante procedimentos francamente corruptos) e, certamente, contrária a qualquer nacionalização.Kofi Annan empenha-se bem em potenciar esta cruzada neoliberal promovendo em diversos países a formação de sucursais da Global Compact, formadas por empresários e representantes governamentais. Fiel a esta linha, ao serviço das grandes potências e do poder económico transnacional, agora Kofi Annan declara-se contrário à nacionalização do petróleo na Bolívia.É caso para dizer: afinal de que lado está a ONU?
Precisamos escamotear e levantar a cortina, porque por detrás do pano, podem estar os mais recôndidos segredos que comandam as grandes "tomadas de posição"!

Sem comentários: