segunda-feira, maio 01, 2006

Dia do Trabalhador


Memórias de
Um tempo não muito distante...

Recordações que deixam
mágoa, saudade e alegria, ao mesmo tempo...
"Ti" Adriano, o que nos contava os discursos e as conversas macias que no tempo de Salazar, o ditador, entremeavam com porrada, exploração e guerra, até fartar, para cima dos trabalhadores. A única abundância.

Quantas onças de tabaco dizias que fumavas, por dia, nessas occasiões, escondido em cima das azinheiras e dos sobreiros, com a guarda a cavalo à tua procura a mando do "lavrador" e da PIDE? Eu já não me lembro!

Belos serões aqueles! Tu a contares essas histórias na tua casa pobre, de chão de terra batida e telhado de telha-vã. O que te valia era o lume de chão e aquele bagaço que tinhas para os camaradas - que eu detestava e tu te rias - enquanto a conversa corria, encantadora, a dar conforto, a despertar vontades e sonhos. Noite fora.

Um poema é feito de muita coisa. Os homens e as mulheres têm o direito de sonhar. O dever de sonhar. E não faz mal ter presente Goethe: "A teoria, meu amigo, é parda, mas verde é a eterna árvore da vida". E. Hemingway: "Um homem pode ser destruído mas não derrotado". Catarina Eufémia. António Maria Casquinha. José Geraldo.

As formigas de asa chegam com a terra molhada. Lavrada. Penetrada pelo arado. Fecundada. O pássaros comem a bicheza que fica nas leivas levantadas pela charrua. O cheiro primitivo e quentte da terra remexida. As sementeiras. Pão. O pão que produzias e faltava na tua casa.

As ceifas. Doze horas curvado. De sol a sol. Calores tórridos. A jornada de miséria. A fome. O insuportável suportado. Latifúndio. Coutadas. Ganhões. Restos de um tempo. Feudalismo. A praça de jorna. O dia de greve. Os que partem. As tuas lágrimas. No campo, o poço. Água fresca. Cantares de um povo que sofre. Rejeição do esquecimento. Resistência. Até à Revolução de Abril. Depois, o 1º de Maio. A tua festa! Évora. Milhares de trabalhadores!

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