segunda-feira, maio 29, 2006

Exploração infantil em Portugal


Os miúdos do fio de nylon...

Os miúdos ajudam-nos quando vêm da escola É o dever deles
não é?

N

ão podemos tolerar que crianças, para garantir a sobrevivência, sejam obrigadas a trocar a infância e o seu pleno desenvolvimento pelo trabalho.
Infelizmente, entre as leis e a realidade, continuam a existir crianças e adolescentes que não estudam porque são submetidos ao trabalho em condições indignas, privados dos direitos elementares de cidadania. Mais uma vez Portugal é um mau exemplo, como poderão verificar na notícia que "linko" de seguida:


Agachados em cima de um caixote cambaleante, os dois irmãos magricelas vão unindo, com uma agulha e muita paciência, as palmilhas dos sapatos de camurça. Aprenderam mais depressa a coser do que a decorar a tabuada. Eles trabalham há várias horas, com a família, num alpendre escuro, de granito frio e madeira carcomida e onde se misturam os cheiros fétidos do estrume e do bafio.

As grossas dedeiras nem sempre os protegem do cortante fio de nylon, que lhes vai abrindo gretas e deixando cicatrizes na palma das mãos. Não é preciso ser vidente para lhes ler um futuro enegrecido... Pormenor: a cena não se passa num bairro da lata em Calcutá, ou numa província da China, mas a norte de Portugal, numa freguesia rural em Felgueiras!
E mais uma vez acredito que esta notícia passará pelos pingos da chuva, e que, embora denunciada publicamente, ninguém irá "mexer uma palha" para alterar a situação. Ou então, como em muitos outros casos do passado, apenas ouviremos lamentos, quando já for tarde demais.

sábado, maio 27, 2006

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O Vírus

A competição ainda não começou, mas as bandeiras já despontam nas janelas, dezoito mil mulheres foram ao estádio do Jamor fazer a «mais bela» e a maior bandeira humana – com entrada directa para o Guiness, segundo consta –, e a Selecção nacional conta desde domingo com a benção de um bispo Nobel da Paz, no caso o timorense D. Ximenes Belo, que se deslocou expressamente a Évora para manifestar o seu apoio aos jogadores.Seria injusto não reconhecer o esforço (e os meios) que para a concretização de tão nobres desígnios despenderam diversas entidades, públicas e privadas.«A mais bela bandeira do Mundo», como teve a bondade de lembrar o secretário de Estado do Desporto, Laurentino Dias, presente no Jamor, foi uma iniciativa da Federação Portuguesa de Futebol, do BES (o grupo de Ricardo Salgado) e do Instituto Português da Juventude. Este último organismo disponibilizou os autocarros que levaram ao Jamor as mulheres vindas um pouco de todo o País, com o beneplácito de Laurentino Dias, que ao contrário de outros membros do Governo não considera bacoco o nacionalismo, pelo menos no caso do futebol, pelo que aproveitou a oportunidade para saudar, ao melhor estilo do Movimento Nacional Feminino, «o bom espírito português para se juntar, solidarizar e emocionar» no apoio à Selecção...... O governo de Sócrates, tal como os seus congéneres por esse mundo fora, não só estimula como cavalga a onda do vírus «desportivo», fazendo de conta que é sinónimo de confiança, sinal de retoma, demonstração de sucesso. Com os espíritos entretidos com o futebol (e com as touradas e os fados e os casinos e as galas e os festivais… que infestam o dia a dia televisivos a lembrar cada vez mais as programações do fascismo), é de esperar que não sobre muito tempo para o «resto». O encerramento de empresas e o desemprego ficarão ao recato de manchetes, tal como as 100 000 crianças em risco existentes em Portugal, o assalto à Segurança Social, o aumento da idade de reforma, a liquidação do Serviço Nacional de Saúde, do direito à educação, à habitação condigna, etc., etc., etc.. Cá como no resto do mundo, a hora é de futebol e de exploração de gente mais ou menos bem intencionada. Enquanto isso, como há tempos revelou a Unicef, no Brasil – paradigmático exemplo do binómio samba/fado e futebol – uma criança morre a cada cinco minutos, na maioria dos casos de fome. O que representa cerca de 290 por dia. O correspondente a dois ‘Boeings 737’ de crianças mortas por dia. Sem direito a estádios, nem cobertura televisiva, nem bispos, nem registo no Guiness



Ana Fino in Avante


Para completar a essência do ridículo a que o nosso país chegou, mostrando a vertente de um Portugal muito, mas mesmo muito profundo, nada melhor do que ler esta crónica que acaba por dar a conhecer o lado do avesso da "mais bela bandeira do mundo"!

sexta-feira, maio 19, 2006

Por detrás do pano

N
o passado dia 12 Maio, em Viena, Áustria, o Secretário Geral das Nações Unidas (ONU), Kofí Annan, criticou a decisão tomada pelo Presidente boliviano, Evo Morales, de nacionalizar os hidrocarbonetos. Justificou a sua opinião dizendo que, esta decisão deve pensar-se e deve ter em conta o carácter globalizante do mundo, uma vez que esta medida pode colocar em registo as relações comerciais internacionais. Estas palavras, provenientes da pessoa que ocupa o mais alto cargo da ONU, pode parecer à primeira leitura, uma incoerência, mas se atendermos aos aspectos que descortino a seguir, ficaremos completamente esclarecidos do porquê desta tomada de posição.
O artigo 97.º da Carta da ONU estabelece que “o Secretario Geral será nomeado pela Assembleia Geral, por recomendação do Conselho de Segurança”, candidato que deve contar com a aprovação dos seus membros permanentes que exerçam o direito de voto. É bem verdade que nenhuma proposta alguma vez tenha sido formalmente vetada, mas também é bem verdade que, sempre todos os candidatos tiveram de passar pelo “filtro” da aceitação dos Estados Unidos e dos outros membros permanentes. Por exemplo, a reeleição de Butros Ghali, foi bloqueada pelos Estados Unidos, que impuseram Kofi Annan, inclusivamente indo contra o costume de nomear rotativamente um Secretário Geral originário de diferentes regiões.Kofi Annan sabe que deve o cargo aos Estados Unidos e empenha-se em mostrar o seu reconhecimento, com reiterados gestos de submissão e obediência, para o que até tem um certo jeitinho particular, entre outras coisas, como consequente defensor do poder económico transnacional. Em 25 de Julho de 2000, na sede da ONU, em Nova Iorque, Kofi Annan presidiu à inauguração do Pacto Mundial (Global Compact) onde participaram 44 grandes sociedades transnacionais e mais alguns “representantes da sociedade civil”. O Global Compact tornou-se uma instituição permanente que funciona junto à Secretaria da ONU, criando uma perigosa confusão entre uma instituição política pública internacional como a ONU, que segundo a Carta representa a “os povos das Nações Unidas...” e um grupo de entidades representativas dos interesses privados de uma elite económica internacional. São várias as sociedades participantes no Clobal Compact, algumas delas com densos “currículos” em matéria de violação dos direitos humanos, dos trabalhadores, do meio ambiente e de corrupção de funcionários públicos. Esta “sociedade” foi anunciada por Kofi Annan num documento apresentado à Assembleia Geral, intitulado: “A capacidade empresarial e a privatização como meios de promover o crescimento económico e o desenvolvimento sustentável”. Este documento proposta, continha um objectivo claro: todas as grandes empresas rentáveis devem estar monopolizadas pelo grande capital transnacional, ou seja, pretende legitimar a política praticada à escala mundial de desfazer as empresas públicas rentáveis (por vezes mediante procedimentos francamente corruptos) e, certamente, contrária a qualquer nacionalização.Kofi Annan empenha-se bem em potenciar esta cruzada neoliberal promovendo em diversos países a formação de sucursais da Global Compact, formadas por empresários e representantes governamentais. Fiel a esta linha, ao serviço das grandes potências e do poder económico transnacional, agora Kofi Annan declara-se contrário à nacionalização do petróleo na Bolívia.É caso para dizer: afinal de que lado está a ONU?
Precisamos escamotear e levantar a cortina, porque por detrás do pano, podem estar os mais recôndidos segredos que comandam as grandes "tomadas de posição"!

segunda-feira, maio 15, 2006

El Nerón del Siglo XXI

E

xistem biografías de George W. Bush escritas pelos responsáveis de informação e comunicadores propagandistas da Casa Branca. Existem as escritas por jornalistas «amigos» do presidente e existe: «El Nerón del Siglo XXI» de James Hatfield, publicada em Espanha (e em França “Bush, L’Imposteur”) a biografia não autorizada, a melhor biografia do inquilino da Casa Branca, a investigação que explora com todo o detalhe a sua vida, o despejo do presidente dos Estados Unidos, os seus negócios, as suas mudanças da casaca, o financiamento das suas campanhas eleitorais, a sua afeição à cocaína, ao álcool...A edição castelhana do livro «El Nerón del Siglo XXI» foi apresentada ao público espanhol no día 3 de Novembro de 2004 em Madrid. Por mera curiosidade, efectuei uma breve pesquisa no google e verifico que em Portugal não se fala em tal livro, que não existe a sua versão em português e que do que foi editado em Espanha ou França, nenhum comentário surge…James Hatfield, escritor norteamericano, foi o primeiro a investigar a fundo e minuciosamente a vida de George W. Bush filho -e da sua família-, quando este era ainda governador no estado de Texas. A relação dos seus avós com o nazismo, a ambiçao e a luta dos seus pais pelo petróleo, as relações de conveniência com os Binladen, como evitou a Guerra do Vietnam na juventude e muito mais. Tudo isto faz com que hoje em dia seja o livro mais completo e o trabalho de investigação mais interessante sobre o presidente americano…A primeira editora que pretendeu publicar o livro, ameaçada pelo poderoso lobby da máquina Bush, assusta-se e queima os 80.000 livros que tinha prontos a sair. Uma o outra editora, mais pequena, ofereceu os seus serviços a Hatfield, que começou, junto com a sua família, a ser ameaçado de morte. James Hatfield será encontrado morto num quarto do motel «Days Inn» en Springdale (Arkansas), em 18 de Julho 2001. Segundo a polícia, tratou-se de um suicídio, mas um amigo do escitor, o jornalista David Cogswell que conhecia todas as ameaças de que James Hatfield foi alvo, revela em duas notas no final do livro, a explicação do estranho mistério da sua morte.Esta obra foi ganhando pouco a pouco a fama e o reconhecimento da crítica, até que foi seleccionada pelo New York Times como best-seller, instalou-se entre as melhores vendas de livros nos EUA, levantando uma intensa polémica. Em Portugal, parece que Bush ainda está a “ganhar”!José Saramago, escreveu o prólogo da biografia não autorizada de Bush, na sua versão espanhola, considerada a melhor obra biográfica de George W. Bush.«Bush, o la edad de la mentira»El intelectual frente al político."Me pregunto cómo y porqué Estados Unidos, un país en todo tan grande, ha tenido, tantas veces, tan pequeños presidentes... George W. es quizá el más pequeño de todos. Inteligencia mediocre, ignorancia abisal, expresión verbal confusa y permanentemente atraída por la irresistible tentación del disparate, este hombre se presenta ante la humanidad con la pose grotesca de un cowboy que hubiera heredado el mundo y lo confundiera con una manada de ganado..."


domingo, maio 14, 2006

Os versos que te fiz


Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolência de veludo caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não te digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz.

quarta-feira, maio 10, 2006

Bombas nucleares


Clique na imagem para assistir à simulação das consequências de um ataque ao Irão com bombas nucleares anti-bunker.

segunda-feira, maio 08, 2006

Populismos

Andei dias a ler o que se escreveu sobre o discurso proferido por Cavaco Silva na sessão solene do 25 de Abril na Assembleia da República... Escreveu-se por aí, se bem percebi, que terá sido dos mais luminosos discursos de um inquilino de Belém perante o Parlamento. E eu, que gosto de associar ideias, pensei logo que a grandeza do momento talvez estivesse ao nível da Aparição da Virgem aos pastorinhos... É verdade que o homem já havia cantado a Grândola em campanha eleitoral, coisa de desconfiar. Mas – caramba! - se aparecia assim ao País, sem que nada o anunciasse nestes preparos de homem com ditos de esquerda, mais se justificaria falar de milagre do que naquele dia de 1917 em que se diz que o sol bailou na Cova da Iria... Eu poderia escrever aquilo. Você, caro leitor, também. Mas dito por um chefe de Estado tem outro peso, claro. E se esse chefe de Estado for Cavaco, ainda mais. Ouvi-lo falar de desertificação, pobreza, exclusão, cravos, revolução, não é todos os dias. Melhor do que isso: é como entregar um argumento de Manuel de Oliveira a Oliver Stone... Depois lembrei-me que, em 30 anos, Cavaco foi Primeiro-Ministro durante dez. Ininterruptamente. E que o País esquecido, abandonado e atropelado pelo «p´ogresso» também é do tempo dele. Recordo-me também que foi no tempo dele que as auto-estradas e as obras faraónicas deixaram um certo Portugal para trás. E que ganhou fôlego a caridadezinha e o assistencialismo, coisas que, como se sabe, dão cama, pão e roupa lavada a muita gente, mas não a torna senhora do seu próprio destino... Daí que, se não me levarem a mal e dadas as circunstâncias, também me apeteça parafrasear Ruy Belo e fazer da poesia, prosa. É que também eu gostaria de falar do país do professor Aníbal, mas isso era o passado e podia ser duro, edificar sobre ele o Portugal futuro.

Miguel Carvalho in Visão.

quarta-feira, maio 03, 2006

Quando o Povo exige...

por cento da população. A exploração de hidrocarbonetos representa 15 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) daquele país andino.
O primeiro índio eleito para a liderança da Bolívia, concretizou assim uma exigência de nacionalização, expressa muitas vezes pela população indígena.
A atitude do presidente da Bolívia, Evo Morales, acabando com o monopólio exercido sobre o gás e o petróleo daquele país, serve de exemplo e mostra que o mundo está vivendo um novo momento, de total rompimento com a política neoliberal, que marcou o comportamento de vários governos na América Latina nos últimos anos..
Ao Povo o que é do Povo!

A Bolívia é uma festa só. O anúncio da nacionalização do petróleo boliviano no dia 1.º de Maio, foi bem recebido pela população e o presidente Evo Morales prepara novos decretos de nacionalizações de empresas estrangeiras que operam em território boliviano.
Evo avisara, desde a sua posse, há 100 dias, que iria nacionalizar os recursos naturais da Bolívia, que vinham "sendo saqueados pelas empresas estrangeiras", como afirmou. A medida faz parte da estratégia de Evo Morales para devolver ao Estado o controlo dos recursos naturais da Bolívia. O Presidente já anunciou que em breve deve também avançar a nacionalização dos sectores mineiro, florestal e agrícola.
A Bolívia tem a segunda maior reserva de gás natural da América do Sul. Produz 40 mil barris de petróleo por dia e é actualmente a nação mais pobre do sub continente com a miséria a afectar 70

segunda-feira, maio 01, 2006

Dia do Trabalhador


Memórias de
Um tempo não muito distante...

Recordações que deixam
mágoa, saudade e alegria, ao mesmo tempo...
"Ti" Adriano, o que nos contava os discursos e as conversas macias que no tempo de Salazar, o ditador, entremeavam com porrada, exploração e guerra, até fartar, para cima dos trabalhadores. A única abundância.

Quantas onças de tabaco dizias que fumavas, por dia, nessas occasiões, escondido em cima das azinheiras e dos sobreiros, com a guarda a cavalo à tua procura a mando do "lavrador" e da PIDE? Eu já não me lembro!

Belos serões aqueles! Tu a contares essas histórias na tua casa pobre, de chão de terra batida e telhado de telha-vã. O que te valia era o lume de chão e aquele bagaço que tinhas para os camaradas - que eu detestava e tu te rias - enquanto a conversa corria, encantadora, a dar conforto, a despertar vontades e sonhos. Noite fora.

Um poema é feito de muita coisa. Os homens e as mulheres têm o direito de sonhar. O dever de sonhar. E não faz mal ter presente Goethe: "A teoria, meu amigo, é parda, mas verde é a eterna árvore da vida". E. Hemingway: "Um homem pode ser destruído mas não derrotado". Catarina Eufémia. António Maria Casquinha. José Geraldo.

As formigas de asa chegam com a terra molhada. Lavrada. Penetrada pelo arado. Fecundada. O pássaros comem a bicheza que fica nas leivas levantadas pela charrua. O cheiro primitivo e quentte da terra remexida. As sementeiras. Pão. O pão que produzias e faltava na tua casa.

As ceifas. Doze horas curvado. De sol a sol. Calores tórridos. A jornada de miséria. A fome. O insuportável suportado. Latifúndio. Coutadas. Ganhões. Restos de um tempo. Feudalismo. A praça de jorna. O dia de greve. Os que partem. As tuas lágrimas. No campo, o poço. Água fresca. Cantares de um povo que sofre. Rejeição do esquecimento. Resistência. Até à Revolução de Abril. Depois, o 1º de Maio. A tua festa! Évora. Milhares de trabalhadores!