
Sento-me ao sol por uns minutos, cansada. Olho à volta e os meus olhos recaem na azáfama de umas formigas que me esburacaram a calçada do jardim e dou comigo a pensar: num formigueiro bem organizado, as formigas rainhas são poucas e as formigas operárias são imensas. As rainhas nascem com asas e podem fazer amor. As operárias, que não podem voar nem tão pouco amar, trabalham para as rainhas. As formigas polícias vigiam umas e outras…
Nesta época em que vivemos, caracterizada pela confusão dos meios e dos fins, não se trabalha para viver. Vive-se para trabalhar. Uns trabalham cada vez mais porque necessitam mais do que consomem, e outros consomem mais do que necessitam. E o que nos diz o sistema?
Pois bem, o sistema ensina-nos que SER é TER. E onde está o logro? Bem, o logro está no facto de que, quem mais tem, mais quer e, ao fim de contas, as pessoas acabam por pertencer às coisas e trabalhando às suas ordens. O modo de vida desta sociedade de consumo, que hoje em dia se impõe como um modelo único à escala universal, converteu o tempo num recurso económico, cada vez mais escasso e mais caro. O tempo, hoje, vende-se, aluga-se, transforma-se… E quem é afinal o dono do tempo? O automóvel, o telemóvel, o DVD, o computador, o televisor e outros tantos indicadores da felicidade, máquinas criadas para “ganhar tempo” ou para “passar o tempo” que, ao fim e ao cabo se apoderam do nosso precioso tempo.
Um automóvel, por exemplo, não só se apropria do espaço urbano, como também se apodera do tempo humano. Em teoria, o automóvel serve para economizar tempo, mas na prática devora-o. Porque afinal boa parte do tempo do nosso trabalho (como as formigas operárias que dedicam o tempo da sua vida à rainha) destina-se ao pagamento do transporte ao trabalho, e transforma-se a cada dia que passa num “comilão” de tempo, em consequência das enormes filas de trânsito (como formigas encarreiradas) nas BABILÓNIAS modernas.
O revoltante é que vivemos para as coisas, em prol das coisas e em função das “formigas rainhas”.
Continuamos relutantes em trocar as coisas pelas asas que nos fariam voar e conformamo-nos em TER, mesmo sabendo de antemão que o supérfluo nos rouba todos os dias a faculdade de poder amar.
7 comentários:
As raínhas nascem com asas e podem fazer amor? Confesso que não sabia :( A gente anda sempre a aprender! É a vida! Bem sei que a moral da questão não é essa... A moral da questão é política! Coitadas das formigas e de nós todos. Abaixo as formigas raínhas, as que tudo comem :(
;) ;) ;)
Infelizmente assim é. A sociedade za e assim reproduz novas situações em que o TER vem sempre à frente.A verdade porém é que (quase) todos vão na onda ou são esmagados. Só com uma revolução profunda que levasse ao estabelecimento de um novo modelo de organização social, é que a situação se poderia alterar
Abraço
e, no entanto, esquecem-se de que fica cá tudo...
e, no entanto, fica tudo por aí...
Uma reflexão bastante pertinente nos tempos que correm.
Infelizmente esta sociedade de hoje é isso mesmo...
Mas ao poucos vamos, alguns, remando contra a maré.
Bom Fim de Semana
Tal como as formigas, os que nascem reis tendem a ser cada vez mais reis e os outros, trabalham até morrer, ficando sem tempo enquanto trabalham, e sem tempo depois de trabalhar...
Passei par ver se havia algo de novo.
Aproveito para deixcar um abraço
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