sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Abílio Fernandes em entrevista


Com que impressão ficaste da Assembleia da República?

Não fazia ideia nenhuma do que era aquilo. Digo isto agora, depois de ter lá estado estes dois anos. A Assembleia da República é de facto um mundo onde se consegue compreender o funcionamento do Estado. E onde se consegue perceber os jogos de bastidores e os compromissos de poder que ali se formam. Isto faz-nos compreender, a quem lá está, por que é que os dois partidos maiores, o PS e o PSD, num momento em que o País atravessa grandes dificuldades, não apresentam propostas válidas. Porque ambos têm fortíssimas culpas de tudo quanto se passou no País desde que começaram os governos constitucionais.

Foi difícil, a adaptação?

Sabes, tive uma grande sorte e felicidade de encontrar um conjunto de camaradas que já lá estão há muitos anos, e que demonstram não só uma grande capacidade de trabalho e de dedicação, mas também uma vitalidade de memória e raciocínio imediato. Para mim isto foi de uma riqueza imensa e ajudou-me bastante.
Por outro lado, encontrei uma equipa de camaradas jovens, que entraram recentemente. E isto para mim é uma grande felicidade. Sinto que estes jovens estão a dar grandes saltos e a progredir a grande velocidade…

Mas entretanto, renuncias…

Sim, passado dois anos renuncio. E renuncio com grande satisfação. Porque eu entendo que o Partido tem que pensar no futuro e pensar no futuro tem que ser com gente nova que possa entrar e assumir responsabilidades e, quando temos essa gente nova, não a podemos desperdiçar. E nós, na Assembleia da República, temos esses jovens! O camarada que me vai substituir, o João Oliveira, tem 27 anos. Eu tenho quase 70… Por isso, saio com muita satisfação

Que momentos destacas desta tua passagem pela Assembleia da República?

Destacar algum pela positiva é difícil, porque nós dificilmente conseguimos fazer aprovar as nossas propostas… Mas um momento importante da minha intervenção parlamentar deu-se aquando da discussão da lei das Finanças Locais, que é, pode dizer-se, a «minha área».
Outro grande momento que eu passei foi no Conselho da Europa, em que foi levantada a questão de considerar que a ideologia comunista está associada a crimes e barbaridades. Foi uma afronta que, como deputado do Partido Comunista Português, me coube denunciar. E disse que quem foi assassinado e espancado em Portugal foram os comunistas. Pela direita e pelo fascismo.
Foi também muito gratificante para mim levar à Assembleia da República as propostas para o distrito de Évora, pelo qual fui eleito, e também de Portalegre.

É sabido – tu próprio acabaste de o dizer – que as nossas propostas dificilmente são aprovadas. Na tua opinião, e neste quadro, qual é o papel do deputado comunista?

Em primeiro lugar, as intervenções dos deputados comunistas são de uma importância extrema. Digo isto em contraponto a todos os que pensam que, como as nossas propostas raramente são aprovadas, quase que estamos ali a perder tempo. É exactamente o contrário…
O Partido, com a sua coerência, tem vindo ao longo dos anos a fazer propostas sempre com o mesmo objectivo: a defesa dos interesses das populações e das camadas trabalhadoras. As intervenções dos comunistas fazem parte da história da Assembleia da República e farão parte de toda a análise que se vier a fazer no futuro sobre a participação dos partidos na vida democrática. E isso tem um peso muito grande.
O mundo vai dar muitas voltas e a política de direita vai continuar a não resolver os problemas das pessoas. E poderá haver perturbações, manifestações e protestos. E aí os cidadãos sérios e honestos vão encontrar nas intervenções dos deputados do PCP a tal coerência e a tal garantia e solidez para governar o País.

Momentos de uma entrevista a Abílio Fernandes, que pode ser lida na íntegra aqui.

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