segunda-feira, outubro 16, 2006

Memórias...

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Abro uma gaveta antiga e encontro objectos esquecidos, desorganizados e revoltos, quase todos inúteis e que não servem para nada. Porque não os deitamos fora no momento oportuno?
Associamos as coisas (classificamo-las) segundo momentos e recordações. Apegamo-nos a elas como à nossa memória, resistimos e negamo-nos a abandoná-las, a fazer limpeza, a virar a página.
Esses móveis de gavetas são como as experiências vividas, que se amontoam e entrelaçam no nosso presente. O nosso coração é como uma gaveta. Àqueles de nós que não usamos pilhas alcalinas ou gasolina super, depressa se enche a gaveta/coração, com a acumulação de cartas, postais, fotos, carícias, visitas, família, amigos… que provocam sentimentos reconhecidos e díspares, todos válidos e reais, mas como desfazer-nos de algum?
Montões de gavetas com o útil e o inútil, estantes desfeitas e funcionais, alegrias e tristezas entrelaçadas, envelopes que aparecem, papeis que não encontramos… e colocamos os óculos para encarar a realidade, sonhando com a graduação ideal que encare a vida com alguma cor. Que a possamos ver.
E de repente, começamos a sentir saudades de dias passados, de momentos serenos de sossego e tranquilidade, que antigamente considerávamos um fastio. Como sempre, desejamos o que não temos, lamentamos o que perdemos e fugimos do presente. Humanos, imperfeitos, insatisfeitos, insaciáveis. Procurando a cada instante ser felizes.

6 comentários:

Anónimo disse...

Revejo-me neste teu texto, cimo se fosse eu...
Todos guardamos partes de memória nas gavetas...Todo procuramos a todo o instante sermos felizes.
Boa Semana

MGomes disse...

A nossa memória somos nós, é a construção da nossa personalidade. Se não tivessenos memória o que seríamos? Daí ela ser tão importante para as nossas vidas.Trilhar caminhos novos, corrigir desvios tomados ou reafirmar escolhas , só são possíveis de concretizar, porque fazemos fé religiosamente na nossa memória.
Um Abraço

Anónimo disse...

Particularmente, creio que sejamos conosco mesmo, mais do que com os outros, nossas próprias memórias.
Tenho algumas caixas de papelão repletas de fitas cassete, cadernos, fotos... Volta-e-meia proponho-me a uma limpeza, a jogar no lixo o que não tiver mais importância. Não dá muito certo, porque volta praticamente tudo às caixas...
Fica para o próximo ano, talvez.

AJB - martelo disse...

talvez essas coisas sejam parecidas com os momentos vividos e ao olhá-las de vez em quando recordem o que já passou... cumprem o seu papel e fazem parte da vida de cada um...

Anónimo disse...

O desapego é dificil, mas a felicidade é maior quando nos encontramos mais leves. Sem bagagens.

ginjasilver disse...

Memórias rimam com Magnólias, abafos com desabafos
e a virtude está no meio.
O título em cima e as Magnólias a meio.
O meu nome poderia ser Mário para rimar com comentário,
mas não é, nem de perto, nem de longe,
memórias feitas de desabafos de hábitos que não fazem o monge,
abafos que o fazem libertar-se do frio criado por uma sociedade inflamada.
Vou prá cama não tarda nada, camarada.