Aideia foi apresentada
pelo primeiro-ministro britânico, Blair, e apresentada esta segunda-feira pelo Diário Económico com o objectivo, segundo o director do periódico, de «deixar Portugal a pensar».
Trata-se, nem mais nem menos, de implementar um pretenso «contrato social» que estabeleça uma «relação completamente nova entre o Estado e os cidadãos», de forma a definir o mais exaustivamente possível as responsabilidades do cidadão para além de «pagar impostos e cumprir a lei».
Do cumprimento da sua parte do «contrato» dependerá o acesso de cada indivíduo aos serviços básicos de qualidade, como a assistência médica, a educação e a protecção policial.
Blair ilustra esta ideia peregrina com um exemplo: um hospital público poderá exigir, antes de colocar uma banda gástrica a um doente sofrendo de obesidade, que o paciente se comprometa por escrito a não voltar a ganhar peso, sob pena de perder no futuro o direito a cuidados de saúde.
A menos que se trate de uma brincadeira de mau gosto de Blair, o que não é crível, o referido «contrato social» – que o DE considera como sendo «uma evolução, muito interessante, da lógica inicial do ‘welfare to work’ (assistência social)» – representa mais um brutal atentado a elementares princípios de uma sociedade civilizada.
A ser implementado, este «contrato social» consagraria não só o primado do governo policial como liquidaria o próprio conceito de Estado enquanto entidade colectiva e solidária. Na prática, trata-se de defender a criação de um corpo de vigilantes, dotado de plenos poderes, que para além de fazer as leis e cobrar os impostos decide o que cada cidadão tem de fazer para usufruir do «direito» de pertencer à comunidade.
O que está em causa não é a exequibilidade de um tal «contrato», como referem alguns comentadores ao DE, mas o facto de ter sido enunciado na Grã-Bretanha e de haver entre nós quem considere a ideia digna de reflexão.
Com semelhante «contrato», o Estado deixaria de ser o resultado da organização da sociedade como um todo para se assumir como um corpo estranho, uma entidade prepotente formada pelas elites dominantes cuja função seria – numa escala infinitamente superior à que já existe – a de dominar e explorar a população, reduzida à condição de mão-de-obra acéfala. A diferença em relação a uma sociedade esclavagista seria um mero acaso.
Certamente não por acaso, o mesmo DE lançou anteontem novo tema de «reflexão»: a flexisegurança, que é como quem diz o novo embrulho do governo PS para a liberalização do desemprego. E ainda há quem não acredite em coincidências!
Anabela Fino in Avante
4 comentários:
Se se tratasse de bricadeira nem dava para rir, porque seria uma das chamadas brincadeiras de mau gosto.
Mas esses "senhores do mundo" não brincam "em serviço". É apenas uma questão de imaginação. E entre tantos estúpidos há-de sempre surgir um com uma ideia "luminosa". Tudo se encaminha no mesmo sentido: o povo não é tratado como um ser humano, mas como uma ferramenta usada para ajustar as "máquinas de chupar o povo até ao tutano". Trata-se de máquinas modernas, último grito, do melhor que há para roubar aos pobres e dar aos ricos e, ao mesmo tempo, encher os cofres dos Estados para "reduzir o déficit".
Nunca um outro governo foi tão directo, antipopular, perverso e fascizante como o de Sócrates!
Eles não respeitam nada nem ninguém, não ouvem os gritos discordantes da população, fazem leis, decretos, calcando, cuspindo na Constituição da República Portuguesa!
Os trabalhadores, nada mais têm de certo do que as dividas que contraíram, pois o emprego desde a Função Pública, passando pela privada, nada está seguro.
Há instabilidade, insegurança, tristeza vincada no olhar dos portugueses, contudo eles não querem saber!
Sócrates ultrapassou a fase neoliberal, é neste momento o novo estilo de dirigentes nazi.
GR
Há mesmo que se refletir sobre a proposta, mas a questão primordial deveriam ser "até onde vai a gana dos donos do Estado e para onde caminha a humanidade?".
Assusta-me o rumo que as coisas estão tomando...
A cobardia de uns tantos, o conformismo de outros e o comodismo geral estão a adiar o que tem de ser feito.
Cpts
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