Alguma vez se deram conta que os estímulos à auto indulgência são sempre seguidos de sugestões? As arreigadas em doutrinas procuram vestígios para reclamar dentro de nós, os vendedores procuram subterfúgios para enganar-nos… desde os profetas da new-age até aos publicitários, desde os desonestos aos radicais, todos nos incentivam a perseguir "os nossos ideais". Mas a questão é: quais ideais? Os reais? E quem decide quais são?O que está perfeitamente claro é que existe uma guerra pelo nosso alento, em todas as frentes. Estes desejos são, na realidade, construídos: mudam, são dependentes de factores externos, da cultura, do contexto histórico da nossa sociedade. "Apreciamos" a comida rápida porque temos que regressar ao trabalho rapidamente, porque a família nuclear (para os poucos que ainda podem dizer que a possuem) é demasiado pequena e está demasiado ocupada para se permitir a alegria de cozinhar e comer em conjunto. "Temos" que ver o e-mail porque a dissolução da comunidade nos levou familiares e amigos para longe, porque os nossos chefes preferem não falar directamente connosco, porque a tecnologia da "poupança de tempo" apropriou-se do tempo, usado antes para escrever cartas (e pelo caminho matou todos os pombos correio). "Queremos" trabalhar, porque esta sociedade não se preocupa em absoluto com aqueles que não o façam, porque é difícil imaginar formas mais aprazíveis de preencher o nosso tempo, quando tudo o que nos rodeia, está projectado para o comércio e o consumo. Cada um dos nossos desejos, cada conceito que formamos, está enquadrado na "linguagem" da sociedade que nos criou.
Quem nunca desejou ser de forma diferente, num mundo diferente?
Se os nossos desejos são construídos, ou melhor dizendo, somos o produto daquilo que nos rodeia, então podemos dizer que a nossa liberdade se mede pelo maior ou menor controlo que possamos ter sobre o que está ao nosso redor. É estupidez dizer a uma mulher que é livre de sentir o que quiser acerca do seu próprio corpo, quando cresce rodeada de anúncios de dietas e "posters" de modelos anorécticas. Como é estúpido dizer-se a um homem que é livre, quando tudo o que precisa para conseguir comida já está previamente estabelecido pela sociedade, e que a sua única alternativa é escolher entre as várias opções estabelecidas.
Precisamos de aprender a fabricar a nossa própria Liberdade, criando brechas na "fábrica" da nossa existência, forjando novas realidades. Precisamos de assegurar-nos que tomamos as nossas próprias decisões, sem o peso da inércia pelo hábito, costume, lei ou obsessão. Está nas nossas mãos criar estas situações. Estes momentos não são tão raros como possam parecer. A mudança é constante e em toda a parte, e cada um de nós tem nela um papel importante, de forma consciente ou não. Podemos dar-nos ao luxo de ser “radicais” (não será antes peremptórios?)... porque ser-se radical, é simplesmente manter-se atento na nossa sociedade.
"Os desabafos que se seguem têm seguramente todas as desvirtudes dos desabafos: para pouco servem e arriscam-se a não encontrar grandes concordâncias. Apesar de tudo, não devem ficar abafados..."
segunda-feira, dezembro 11, 2006
Olhando à nossa volta
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2 comentários:
Com excepção das várias conotações de radicalismo, penso que temos aqui um magnífico post. Sem sombra de dúvida este blog está brutal!
"A desvalorização do mundo humano cresce na razão direta da valorização do mundo das coisas."
(Karl Marx)
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