quinta-feira, junho 14, 2007

Os invisíveis

A exclusão existe. Mas ninguém é um excluído por aquilo que é, mas sim pelo tratamento que recebe dos outros que o rodeiam. Talvez que o excluído não exista, e só existamos nós, os excludentes.A

exclusão social pressupõe negar à pessoa o direito de ser pessoa. O homem é um ser social, mas ao excluído arrebata-se tudo aquilo que lhe permite sentir-se humano. O excluído é todo aquele a quem a sociedade vira as costas. Os políticos não se lembram deles e nos meios de comunicação aparecem apenas nestas ocasiões O excluído social não desfruta dos direitos mais básicos, porque a sociedade não lhos reconhece e ele não pode reclamá-los.
A imagem da exclusão social mais evidente talvez seja a das pessoas que vivem na rua. Na “desenvolvida” União Europeia, calcula-se que cerca de 5 milhões de pessoas não têm lar e que mais de 15 milhões vivem em barracas. Ao mesmo tempo, os imigrantes sem papéis, os habitantes dos bairros marginais e os toxicodependentes sem tratamento, formam um grupo de excluídos cada vez maior. A verdade é que podemos afirmar que, se a sociedade não favorece os débeis, então ela os exclui. E começa a fazê-lo bem cedo. A falta de interesse pela educação, que recebem as crianças dos bairros marginais, assegura-lhes à partida, “uma taxa de exclusão” para o futuro. A igualdade de oportunidades apregoada por aí, não passa de uma frase feita, porque os meios públicos não são colocados de igual forma ao alcance de todos.
Fenómenos como o desemprego, a precariedade no trabalho ou a redução do Estado de Bem Estar, fazem aumentar a percentagem de excluídos. As novas estruturas sociais criam grupos de exclusão que antes eram impensáveis. O “avô” que até há pouco tempo era uma figura fundamental em qualquer família, enfrenta com uma das exclusões mais subtis: a solidão. Num país tradicionalmente familiar como Portugal, mais de um milhão de idosos vivem sós, e uma grande percentagem reconhece que o seu principal problema é a falta de companhia.
Os grupos de exclusão mudam com o tempo. Ao longo da história, foram vários os excluídos sociais: os judeus, os canhotos, os doentes mentais, os ciganos, os actores, os portadores do vírus da SIDA. A homossexualidade e o consumo de drogas foram rechaçadas ou dignificadas, consoante as diferentes culturas. São vários os grupos de exclusão que criamos ao nosso redor. Hoje em dia a principal causa de exclusão mundial é, simplesmente, a pobreza.
O excluído não é aquele que perdeu o emprego, mas sim aquele que não tem a mínima esperança de recuperá-lo. O problema dos excluídos não é que tenham problemas, é antes não ter a quem contá-los e a quem pedir ajuda. Excluído é o imigrante que chega sem uma garantia de futuro, a prostituta sem alternativa, o toxicodependente, a mulher maltratada, o sem abrigo. O idoso que não entende uma receita médica e não tem quem lha explique; o doente sem visitas há meses; o homossexual que tem de calar o que sente e o deficiente motor defronte de uma escada.
A verdade é que os excluídos não escolhem sê-lo. Somos nós que, entre todos, lhes escrevemos o rótulo.
Ninguém é um excluído por aquilo que é, mas sim pelo tratamento que recebe dos outros que o rodeiam. Talvez que o excluído não exista, e só existamos nós, os excludentes.
· ··^v´¯`×)(×´¯`v^· ···×)(× ··^v´¯`×)(×´¯`v^· ··

8 comentários:

Anónimo disse...

Infelizmente uma realidade cada vez maior, graças a este sistema neo-liberal em que vivemos. Igualdade de oportunidades é hoje ainda uma utopia, uma luta constante.
Um dia lá chegaremos...
Magnifico artigo.


Kiss

Ivo disse...

O certo é que hoje, nem todos temos as mesmas oportunidades... contudo, um excludente hoje, poderá ser um excluído amanhã!!

MGomes disse...

Excelente.
É um tema preocupante dos nossos dias, desta sociedade apostada num desenvolvimento retrógado, negativista, desigual e acima de tudo desumano. Quem pode ser feliz nesta terra onde todos os dias roubam-nos um pedaço da alegria de viver?
Um Abraço

Lovely Toys disse...

Obrigada pela visita e pelos vossos comentários. Em especial ao MGomes que há muito não comentava por aqui. As vossas palavras são sempre um alento.

a.castro disse...

Concordo inteiramente com os comentários do ludovicus rex e do mgomes, a quem abraço. Aproveito para sugerir a ambos a leitura do
blog do meu filho Vasco.
À magnolia os meus parabéns pelo post, com um Abraço e Beijinhos.

Mar Arável disse...

De acordo.Vale a pena acreditar nos sonhos acordados

Maria Faia disse...

Viva Magnólia,

Tema sensível escolheste para partilha e debate. Infelizmente, os "invisíveis" são visíveis que alguns não querem ver mas, com gente interventiva chegaremos lá...
Igualdade de oportunidades não é ilusão nem utopia, é um direito consagrado a todo o cidadão.
Lutemos sem esmorecer.

Parabéns pelo post.

Beijo de Bom Fim de Semana

Victor Nogueira disse...

Olá :-)
Aprende.se mais a ler o Correio da Manhã, diário para as classes menos endinheiradas, do que na chamada «imprensa de referência», cheia de «fazedores de opinião».
Vi a tua visita, estavas na minha lista de blogs que valem a pena (alguns outros, poucos, estão lá para saber o que pensa ou diz o «outro lado») e deste modo retribuo a tua visita ao teu muito pessoalísssimo blog, mas nem por isso menos interessante. CARAS era a revista dominical do Correio da Manhã. Como o Berardo está na berra veneradora e obrigada, mesmo que «dirigente», fui repescar o artigo que comentaste, que com outro sublinhado é o retrato da gente «bem» desta parvónia dirigida por medíocres, sejam a maioria dos políticos, seja a esmagadora maioria dos «empresários, analfabrutos, qualquer que seja a «dimensão» da respectiva bolsa.
Um abraço e bom trabalho
Victor Nogueira