À
medida que se aproxima a quadra natalícia, o comércio e os meios de comunicação lançam sobre os cidadãos, a malfadada ofensiva que consiste em repetir, até à exaustão, mensagens de paz, de amor e, sobretudo, de consumo. À obrigatoriedade de sermos felizes, bondosos, solidários, entranhadamente familiares, alegres e divertidos, junta-se
a mais sagrada de todas as obrigações: a de comprar.
A celebração do natal e o “ir às compras”, transformaram-se, nesta sociedade de consumo, em actividades complementares, se não mesmo sinónimas.
A publicidade encarrega-se de nos fazer crer que existe uma necessidade de participarmos nestas festividades, e converte-nos a nós próprios, nos protagonistas dos acontecimentos. Transmite-nos a ideia de que, se não participamos, somos “não solidários” inumanos, egoístas, pobres de espírito, em suma, desmancha-prazeres. E qual é então a melhor (se não a única) forma de participar? Muito fácil: consumindo, comprando…
A lista de compras imprescindíveis, torna-se cada ano mais exaustiva: alimentos para comidas e ceias especiais, bebidas, participações em jogos de fortuna e de azar, adornos para o lar, roupa e adereços para brilharmos elegantemente nos dias assinalados, presentes para todos e para quase todos os dias, brinquedos, bilhetes para festas, concertos e outros saraus…
O número de “necessidades” multiplica-se, e parecem concentrar-se milagrosamente em apenas duas semanas de Dezembro.
Ao mesmo tempo que se estende a lista de compras obrigatórias, assistimos a uma curiosa antecipação da quadra natalícia. Antigamente, a febre consumista arrancava bem mais tarde, nos meados do mês de Dezembro. Agora, o frenesim das compras começa logo em finais de Novembro, ou mesmo antes. Os cartões de crédito animam-nos a adiantar-nos na data da “euforia gastadora”, por razões óbvias. E como se não bastasse os bancos brindam-nos “bondosamente” em época de solidariedade com empréstimos a juros “baixíssimos”, para nos ajudarem a ficar bem com a nossa consciência benemérita, ao mesmo tempo que contribuímos para a sua prenda no sapatinho.
Se somos inteligentes, sabemos isto tudo… porque continuamos sempre a ser levados? Falta de coragem em sermos diferentes?
7 comentários:
É uma realidade! A isto pode chamar-se alienação total do país, descarada e intencionalmente promovida pelo Governo e pelos capitalistas que o apoiam (e vice-versa), numa espécie de "lavagem ao cérebro" do comum dos cidadãos que, infelizmente, não se dão conta da "teia" em que estão metidos e contribuem para que nada mude, mesmo sabendo que tudo está mal, que a vida está insuportável, e disso se lamentando!... Falta coragem à maioria das pessoas para tomar uma atitude eficaz nos momentos decisivos em que o podem fazer...
Muitos de nós tentam não ser levados por tão exacerbada publicidade...
Sou contra o consumismo hipócrita que se pratica nestes dias e luto contra ele, pela melhor forma que sei. Não comprando...
Concuerdo plenamente con tus palabras.
no celebro, nunca me ha gustado esta fecha, ni ninguna fiesta obligada.
já se entranhou na sociedade o consumo. Este blogue é brutal.
A sociedade de consumo valoriza mais aqueles que consomem mais. Quem não consome não é boa companhia.
Tem um Blog muito interessante.
Hoje em dia a transmissão de conhecimentos e de opiniões através da blogosfera é algo que os poderes instituídos jamais conseguirão controlar.
Pode ler-me em http://manuel-bancaleiro.blogspot.com
Manuel Bancaleiro
Claro que sim. A forma como festejamos o natal nada tem de religioso ou de solidário. É consumismo, puro e duro sob a capa de uma festa da família. E isso não tem de ser forçosamente mau, a família, normalmente, merece o que se lhe dá. O que estará mal, para além da confusão entre gastar à toa e ser solidário, residirá no facto de não ter-mos dinheiro para pagar o que consumimos e, ainda assim, a sociedade não abrandar a pressão para o endividamento.
Cpts d’Aldeia
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