sábado, novembro 25, 2006

Um Mundo... mundos diferentes

---------- O Desejo ----------
D

esde que nos disseram que estávamos de “tanga” que os portugueses se colocaram uns contra os outros, enquanto sectores sociais – público ou privado – e, dentro do primeiro, encontramos, inclusive, diferentes grupos profissionais. Um aspecto que tem sido utilizado frequentemente quer pelo governo, quer pela direita, quer ainda pelos media para denegrir a imagem dos trabalhadores da Administração Pública, e virar os trabalhadores privados contra os funcionários públicos, é a questão das remunerações e da “regalias” na segurança social, diferentes do sector privado. Abismo entre público e privadoHá dias, na sala de espera da dentista, ouvi os maiores disparates que se possam imaginar numa conversa de mulheres (mera casualidade) que, sem o mínimo conhecimento de causa ou de adequada justificação, atacavam os trabalhadores da função pública, considerando-os o “cancro” da crise que vivemos actualmente, fazendo jus aos verdadeiros objectivos do governo: interiorizar nos portugueses a ideia de que a Administração Pública (inevitável bode expiatório) é a génese da culpabilidade de todas as medidas que têm sido implementadas e que não agradam a ninguém. Enquanto ouvia a referida conversa, ocorreu-me à ideia uma história antiga que ilustra bem o estado de espírito de alguns.
A história, acontecia em África, num tempo não determinável de um local muito pobre. Um homem revela-se desesperado. Fora agricultor e tinha perdido tudo, numa terra seca por muitos anos sem chuva. Estava só, pois a sua mulher e filhos tinham partido. E vivia numa cabana quase a cair, nada tendo sequer para comer. Certa manhã, o homem saiu da cabana e sentou-se no chão, encostando-se ao tronco de uma árvore. Quase de imediato, surgiu do nada um duende, mesmo ali à sua frente. O espanto do homem foi enorme e mais ainda quando essa figura mágica lhe disse: “Concedo-te um desejo. O que desejares será concretizado. Seja o que for, apenas um desejo. Mas com uma condição: aquilo que desejares, ser-te-á concedido a ti e em dobro ao teu vizinho do lado. Volto amanhã, exactamente por esta hora, para saber da tua decisão e o desejo será imediatamente concedido”. E o duende desapareceu. Depois do espanto, o homem sentiu medo. Duvidava do que lhe tinha sido proposto, porque duvidava de si mesmo. Pensava que o desespero lhe tivesse toldado o espírito e a razão. Mas nada tendo, nem nada para perder, rapidamente abandonou o medo e começou a entusiasmar-se. As coisas pequenas que começou por desejar foram tomando volume. Uma bela seara, pensou. Que lhe desse grande rendimento. Teria trabalho e alimento. E teria então condições para reorganizar a sua vida. Mas enquanto imaginava semelhante seara, lembrou-se do vizinho… com quem estava muito zangado e há muito tempo. O vizinho teria una seara duas vezes maior! E sem qualquer esforço. Nem pensar, concluiu.
Mas não querendo perder a oportunidade, o homem pensou: iria para a cidade e deixaria de viver naquele lugarejo. Desejaria um grande comércio, instalado numa bela loja. Venderia de tudo um pouco e ficaria finalmente rico. Só que, nesse caso, o vizinho teria uma loja duas vezes melhor e venderia duas vezes mais coisas. Não o podia permitir! O vizinho seria duas vezes mais rico! Nem pensar, concluiu novamente. Desejou então uma companheira. Bonita, muito bonita. E o vizinho… teria duas mulheres tão bonitas como a sua ou então uma mulher duas vezes mais bonita que a sua. E mais uma vez concluiu: nem pensar!!
O dia e a noite correram sem que o homem conseguisse dormir. Foi formulando desejos de que imediatamente desistia porque nem queria sequer imaginar que o seu vizinho iria ter o dobro do que lhe seria concedido a si. Que injustiça! O duende era seu e a sorte era sua. E o vizinho ia aproveitar-se de tudo isso. Não, não o permitiria nunca.
A manhã chegou e o homem estava esgotado com a briga solitária que travara. E chegou também a hora do duende, que apareceu conforme havia prometido ao homem, solicitando que expressasse então o seu desejo. O homem não hesitou. Pediu ao duende que lhe arrancasse um olho.

5 comentários:

Anónimo disse...

A lenda está muito elucidativa, quanto ao pensamento do povo português.
Mas quem amesquinhou os cidadãos?
Quem anestesiou o povo?
Quem fez do trabalhador o maior devedor da banca?
Quem mentalizou os encarregados de educação que os professores, não só tinham que instruir, como educar?
Quem engana o eleitorado quando diz que, o funcionário público é muito bem pago e privilegiado?
Quem droga os portugueses com futebol, programas televisivos tão incultos e debates acéfalos?
Os sucessivos governos!
Contudo, este desgoverno perigosamente de direita, conseguiu por trabalhadores contra trabalhadores e um pais (quase) inteiro contra os socratianos!
A situação está insustentável!
Até quando?

GR

Anónimo disse...

Olá.
Sou brasileira e vim te visitar. A lenda é muito explicativa! Aqui no Brasil em nada é diferente! Péssimos governos!
Veja aqui:
http://nabiroscadabrigona.blig.ig.com.br
Um abraço
Brigona Maria de Windsor

Anónimo disse...

olá, bom artigo. Já actualizei a situação no kontrastes. Entretanto queria convidá-la a escrever no blogue Cidadela dos Incultos. Por favor contactar-me em kontrastes@sapo.pt

Anónimo disse...

Uma história bem ilucidativa do que se passa hoje no nosso paí­s.
Infelizmente temos um povo mal informado e que por vezes não quer nem deseja informar-se, por mais que se explique o estado das coisas...
Obrigado pelo teu comentário no Momentos.

AC disse...

Dividir para reinar. Funciona desde sempre e até aos nossos dias.

Cpts