sábado, agosto 25, 2007

A propósito...


Os políticos de Negócios

Alguns partidos, perante a diminuição da sua influência, motivada pela sua própria incapacidade de representar de forma efectiva o interesse geral e de conduzir as (cada vez mais) diversas solicitações dos cidadãos, vêem-se obrigados a transformar-se internamente, em épocas de crise. Em consequência dessas transformações, sobretudo em momentos de crise dos partidos de massas, surge uma nova classe de político que considera que a política não é mais que um negócio como qualquer outro. Essa transformação abre espaços à infiltração nos partidos de uma classe de políticos com parco sentido da moral e da coisa pública. Nesta situação, a classe política é facilmente substituída por indivíduos que consideram a política basicamente como um negócio.
Os políticos de negócios caracterizam-se por indivíduos que querem sacar o máximo de proveito pessoal do controle dos recursos públicos. Para atingirem o seu objectivo, substituem a representação do interesse colectivo pela concretização das pretensões individuais.
Esta nova classe política consolida o seu poder ocupando vários cargos no sector público, uma vez que estes cargos permitem desde logo, atingir os seus objectivos sem entrave, nomeadamente no que se refere à apropriação privada de recursos públicos. E utilizam mesmo a burocracia (na forma como ela é entendida por Max Weber) em seu próprio benefício. Estes políticos de negócios enriquecem pessoalmente por meio de subornos e pela aplicação do seu poder político noutras actividades, sobretudo naquelas em que esse poder lhes confere um estatuto de condição de superioridade.
Em geral os políticos de negócios não possuem a preparação profissional ou formação ideológica que lhes permitiria cumprir as tarefas requeridas pela administração pública, nem tão pouco uma identidade colectiva formada com base numa comunidade de interesses.
Tudo isto obriga a perder a ideologia dos partidos e a sua capacidade para fazerem propostas, criando em simultâneo um sistema que exclui todos os que não compactuam com os seus métodos. Utilizam por isso todos os métodos necessários para conservar o poder adquirido e o acesso aos recursos públicos. Este tipo de partidos transformam-se em agências de socialização da ilegalidade, colocando os seus homens em cargos de responsabilidade de organismos públicos, a troco do cumprimento das regras de uso desses lugares, para o “financiamento político”. O facto de alguns partidos actuarem como centros do poder, ratificando os seus actos em vez de condená-los, permite que a corrupção se propague e se degrade tudo o que tem origem político.
A confiança é um elemento essencial na relação entre os cidadãos e os seus representantes, ou seja, é um valor que está implícito à decisão, na hora de eleger um representante. A confiança entre representados e representantes traduz-se também na confiança de um povo no seu sistema de governo, na legitimidade do Estado e das suas instituições. Em consequência, a diminuição ou falta deste valor pode colocar em causa todo o sistema político.
É importante salientar que a perda da confiança, derivada da corrupção política, produz um grave desinteresse da sociedade civil pela democracia representativa, traduzido num abstencionismo que nos afasta cada vez mais da vida política, na perda do significado do voto que tende a converter-se em mera mercadoria transaccionável, e numa falha na essência e legitimidade das eleições.
O tipo de apoio obtido pelos partidos políticos através da corrupção e do clientelismo, é incapaz de garantir uma verdadeira legitimidade ao sistema político e às instituições do governo.


Link relacionado.

quinta-feira, agosto 09, 2007

Dizer mal de Hugo Chavez. É obrigatório!

Decálogo para falar mal de Hugo Chávez, por Emir Sader
Actualmente, é professor aposentado da Universidade de São Paulo e dirige o Laboratório de Políticas Públicas (LPP) da Universidade do estado do Rio de Janeiro, onde é professor de sociologia. É autor de

Quem é Emir Sader:

Emir Simão Sader nasceu em São Paulo, no ano de 1943. Formou-se em Filosofia na Universidade de São Paulo. Fez Mestrado em Filosofia Política e Doutorado em Ciência Política, ambos na Universidade de São Paulo. Na mesma universidade, trabalhou como professor, primeiro de filosofia, depois de ciência política. Foi, ainda, pesquisador do Centro de Estudos Sócio Económicos da Universidade do Chile, professor de Política na UNICAMP e coordenador do Curso de Especialização em Políticas Sociais na Faculdade de Serviço Social da UERJ. Actualmente dirige o Laboratório de Políticas Públicas na UERJ, (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) onde é professor de sociologia.



Lembrete fornecido aos jornalistas da mídia oligárquica

1. Devo falar mal de Hugo Chávez porque ele recupera o papel do Estado, desqualificado e enterrado por nós há tempos.

2. Devo falar mal de Hugo Chávez porque ele se diz anti-imperialista e esse é um tema proibido nos media há tempos.

3. Devo falar mal de Hugo Chávez porque ele funda um novo partido, quando martelamos todos os dias que todos os partidos são iguais, que são negativos, que sempre reflectem interesses de grupinhos.

4. Devo falar mal de Hugo Chávez porque ele recupera o papel da política, quando todo o trabalho quotidiano dos media é para dizer que a política é irrecuperável, que só a economia vale a pena.

5. Devo falar mal de Hugo Chávez porque ele vende petróleo subsidiado aos países que não podem pagar o preço do mercado - inclusive a pobres dos Estados Unidos -, o que evidentemente fere as leis do mercado, pelo qual tanto zelam os media.

6. Devo falar mal de Hugo Chávez porque ele é um mau exemplo para os militares, que só devem intervir na política quando seja necessário um golpe militar e nunca para defender os interesses de cada nação.

7. Devo falar mal de Hugo Chávez porque ele ataca a os media privados e fortalece os media públicos. Porque ele acabou com o analfabetismo na Venezuela, tema sobre o qual devemos calar. Porque ele vai diminuir a jornada de trabalho em 2010 para 6 horas e esse tema é odiado pelos patrões.

8. Devo falar mal de Hugo Chávez porque assim me identifico com os interesses do dono do meio em que trabalho, garanto o emprego, fortaleço os partidos e as empresas aliadas do patrão.

9. Devo falar mal de Hugo Chávez porque ele faz com que se volte a falar do socialismo, depois que nos deu muito trabalho tratar de enterrar esse sistema, inimigo do capitalismo, a que estamos profundamente integrados.

10. Devo falar mal de Hugo Chávez (e de Evo Morales e de Lula e de todos os não brancos), senão eles vão querer dirigir os países, os jornais, as televisões, as empresas, o mundo. Será o nosso fim.

Este post foi copiado ao amigo António Melenas do blog Enquanto e Não.

segunda-feira, agosto 06, 2007

Vozes que se levantam


Em defesa da liberdade e da democracia


C om o 25 de Abril, um momento maior da história e da luta do Povo português, conquistámos a liberdade e abrimos as portas para profundas transformações na vida nacional. Ao derrubamento do regime fascista, sucedeu-se o lançamento das bases fundamentais de uma democracia integrando, complementarmente, as vertentes política, económica, social e cultural – uma democracia amplamente participada e conjugada com uma inequívoca afirmação de defesa da independência e soberania nacionais.

O regime democrático assim moldado foi consagrado na Constituição da República Portuguesa, aprovada em 2 de Abril de 1976 – sem dúvida um dos textos constitucionais mais avançados e progressistas da Europa.
Sabemos que, de então para cá, com responsabilidades e cumplicidades de diferentes governos e presidentes da República, a Constituição, não só não foi cumprida, como ainda foi desfigurada, por sucessivas revisões, em muitos dos seus aspectos fundamentais. E sabemos que, apesar disso, o cumprimento do actual texto constitucional, continuando a contemplar um inequívoco projecto democrático, constituiu a mais sólida garantia para defender a liberdade e o regime democrático, para projectar a defesa dos interesses dos trabalhadores, do Povo e do País.
Neste novo século, 33 anos depois do Dia da Liberdade, é tempo de reflectirmos sobre o caminho percorrido desde então e sobre a situação hoje existente.
Se em muitos planos vivemos hoje profundas inquietações na evolução do País, é na democracia social e económica, nas condições objectivas de vida dos trabalhadores e das populações, no desemprego, nos baixos salários, no trabalho precário, nas reformas e pensões de miséria, nas desigualdades sociais, na destruição de serviços públicos e do carácter universal do direito à saúde, ao ensino e à segurança social, que mais se faz sentir a degradação do regime democrático e que o colocam em perigo.
Situações essas que caminham a par e passo, com crescentes limitações aos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, em particular dos trabalhadores e activistas sindicais no exercício dos seus direitos constitucionais, entre os quais, o direito à greve.
Direitos, liberdades e garantias dos cidadãos cujo exercício pleno se encontra cada vez mais vigiado e condicionado, quer nas muitas formas de organização e intervenção política e social, quer no acesso à informação, à cultura e à liberdade de expressão.
Regressões também no sistema político com a subversão do princípio constitucional da subordinação do poder económico ao poder político e onde, a pretexto de uma chamada «reforma», foram aprovadas leis profundamente antidemocráticas – como é o caso da «Lei dos Partidos» e da «Lei do Financiamento dos Partidos e das Campanhas Eleitorais» – e está em curso um processo de criação de leis eleitorais que distorcem o princípio da proporcionalidade.
Paralelamente, assiste-se a uma poderosa operação de branqueamento da história e da natureza do regime fascista, de ocultação dos seus crimes, de perigosa tolerância por parte das autoridades ao surgimento e intervenção pública de organizações de claro carácter fascista, violando a Constituição da República.
A situação actual e o futuro de Portugal impõem que os democratas, os homens, mulheres e jovens de esquerda, os trabalhadores, os intelectuais, façam ouvir as suas vozes e unam as suas forças em defesa do regime democrático de Abril.
É tempo de convocar os órgãos de soberania à assunção das suas responsabilidades no fazer cumprir a Constituição da República.
É tempo de renovar o apelo à intervenção cívica dos portugueses em defesa da liberdade e da democracia.
É tempo de redobrar o alerta e a acção para que cessem os ataques ao conteúdo democrático do regime saído da Revolução de Abril.
Para que Abril, os seus valores e os seus ideais, se afirmem como património vivo no Portugal do nosso tempo.
Para que a expressão «25 de Abril sempre, fascismo nunca mais» ganhe garantia de futuro.
Abaixo-Assinado