quinta-feira, maio 31, 2007

Olhando o dedo

"Quando alguém aponta para a lua, os imbecis ficam olhando o dedo."



Um dos grandes defeitos da nossa sociedade é a proliferação de um grande número de imbecis em colaboração estreita com outros tantos chicos-espertos. Uns estão encavalitados em altos cargos do poder, outros prestam-lhe vassalagem, mas todos estão dotados de um nível médio de escolaridade que lhes arroga o direito de opinar veemente daquilo que pouco ou nada sabem. XIÇA!!!!!E, como sabem pouco, e no fundo não querem aprender mais porque crêem que nada mais têm para saber, costumam opinar sobre temas conjunturais. Ou seja, sobre o que geralmente a comunicação social já opinou o que, no entanto, não deixa de ser medíocre, escandaloso, pretensioso e de grande ignorância. Outro defeito mais que têm os “manda bocas” aficionados ou os “língua de trapo” profissionais, é a sua incapacidade para se manterem em silêncio quando as circunstâncias o exigem.
Hoje, a propósito de alguns comentários que li e ouvi sobre a greve geral de ontem, veio-me à memória esta frase que ouvi em tempos e que caricata de forma fidedigna este tipo de gente. Nada mais certo! Porque se não sabemos ou não queremos saber, se estamos simplesmente distraídos e não entendemos as coisas mais prementes que nos rodeiam, então é porque também fazemos parte desse grupo de imbecis que ficaram olhando o dedo.

A ler...


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sexta-feira, maio 25, 2007

A Greve Geral de 30 de Maio

Conhecem aquela experiência da rã?

Introduziram uma rã numa sertã com água muito quente. Naturalmente que a rã saltou logo borda fora.
Numa segunda operação tentaram colocar a rã em água temperada, Neste caso, embora não estivesse totalmente cómoda, nem sequer se moveu. Colocaram então o recipiente a aquecer lentamente no fogo, mas com um aumento constante da temperatura, ainda que suave. Pouco antes de alcançar a temperatura mortal para a rã, viu-se que ela tentou fazer um movimento, e logo de seguida flutuou inerte.
Ficou a dúvida se a rã morreu ainda antes de tentar saltar fora da sertã, ou se a permanência na água quente tinha anulado a sua capacidade de salto.
Os poderosos desta sociedade sabem muito bem que não poderiam governar a sociedade verdadeiramente como lhes gostaria e por isso, conduzem-nos gradualmente, sem pressa e sem parar, rumo aos seus objectivos.
Creio, contudo, que hoje em dia ainda conservamos essa capacidade de reacção quando nos agridem clara e fortemente.

MUDAR DE RUMO! Porque é preciso mostrar o cartão vermelho ao Governo! Porque chega de precariedade, de flexigurança, de desemprego, de desigualdades! Porque é justo o nosso protesto!
... e quando assim é, como será melhor? Todos juntos ou cada um por si?

É por isso que aqueles que estão segurando no cabo da sertã, sabem que não podem subir a temperatura rapidamente. Vão-nos agredindo pouco a pouco:
- A precariedade agrava-se e gera insegurança e instabilidade;
- O desemprego é já o dobro de há 3 anos, aumentando a pobreza e a exclusão;
- A emigração é a saída para milhares de portugueses, principalmente jovens;
- O patronato bloqueia a contratação colectiva, recusa o aumento dos salários e ataca os direitos dos trabalhadores;
- Os salários valem menos, os preços sobem demais, os lucros dos grandes são imensos e as desigualdades aumentam escandalosamente;
- Na flexigurança, a prometida protecção social não protege, não compensa, nem é realizável em Portugal, ou seja, tudo é flexi e nada segurança;
- Diariamente o patronato e o governo-patrão desvalorizam o valor e a dignidade do trabalho;
- Enfraquece o SNS, fecham maternidades, hospitais, centros de saúde, os médicos saem do SNS, aumentam as taxas moderadoras, taxam-se os internamentos e cirurgias… tudo a favor das clínicas e hospitais privados;
- Escolas fecham-se, o Ensino Público degrada-se. É insuficiente o financiamento das Universidades;
- Degrada-se a justiça, são excessivas as custas judiciais, nega-se o apoio judiciário, fecham tribunais;
- Uma pior Segurança Social com redução das pensões no futuro e a diminuição das condições de atribuição do subsídio de desemprego;
- A imposição de baixos salários;
- A injusta distribuição da riqueza;
- A pobreza e a privação, mesmo de quem trabalha.
ESTAS SÃO MEDIDAS POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS, NÃO ACEITÁVEIS!!!
E então eu pergunto àqueles que acham que não vale a pena fazer greve: quando a temperatura da água for demasiado alta e insuportável, não será que pode ser já demasiado tarde para saltar??

quarta-feira, maio 23, 2007

Mudando um pouco o tema


Universo Feminino


T irando as "Amélias", uma espécie aliás em franco processo de mutação, toda a mulher que se preza não vive sem a sua vaidade. Para os homens, pode parecer felicidade barata mas, para as mulheres, que sabem o alto custo disso, um dia de sorriso garantido é aquele em que a pele amanhece perfeita, os cabelos dispostos a colaborarem e o guarda-roupa recheado de peças que parecem ter sido desenhadas sob medida. Mas quem pensa que a tradicional produção visual feminina visa encantar os olhares masculinos, engana-se. É claro que, nessa história, há uma boa dose de síndrome de pavão, que se enfeita para atrair o sexo oposto, e também um pouco de satisfação pessoal. Mas o que atormenta a maioria das mulheres naqueles dias de t-shirt, calça de algodão e rabinho de cavalo é a própria opinião feminina. Como boas representantes da espécie, elas sabem que o mundo é uma arena de leoas, todas de olho vivo para condenar sapatos mal escolhidos, maquilhagens borradas e outros deslizes da concorrência.

A maioria, é com a opinião das outras que se preocupa na hora de escolher a roupa. Vestimo-nos para as mulheres, sem dúvida. E somos muito cruéis, não deixamos passar nada. Nem os homens são tão exigentes, acreditem. O ginásio é o melhor lugar para comprovar isso. Aquele bando de mulheres reparando se nós usamos o mesmo fato de treino todos os dias ou se mudamos amiúde. É um julgamento constante. Da mesma maneira, no trabalho, quando somos mais de duas, reparamos em tudo e comentamos. Quando vem alguma mais bem arrumadinha, uma ou outra faz questão de elogiar. Mas é notótio que tal generosidade é, na verdade, uma espécie de inveja velada. É um horror. No fundo, roemo-nos de inveja por perceber que há alguém mais bonita do que nós. É uma autêntica competição. Os homens não reparam se o cinto combina com o sapato ou se repetimos a mesma saia a semana inteira.

E não reparam mesmo. Basta uma rápida pesquisa para comprovar que, quando passa uma mulher, há, para os homens, outros apetrechos mais interessantes a serem observados do que a produção fashion. Para eles, basta que a mulher apenas aposte nas peças que realcem, digamos, as suas bênçãos naturais. Quando coloca uma blusinha mais decotada, uma saia mais justa, não precisa mais nada. Não importa a cor, nem se combina com a calça, ou qualquer coisa assim. Desde que esteja valorizando coisas boas, se a roupa for curta e justinha, nada mais importa.

A todo o instante está patente essa antiga realidade: a competência feminina. Na maioria dos casos, é uma necessidade de compensação da auto-estima, como o carro o é para o homem, afinal de contas. Mas não deixa de ser difícil, essa vida de mulher: arrumar-se para elas, despir-se para eles.

sexta-feira, maio 11, 2007

Opinião

A camuflagem imprescindível
P

orquê o nome “terroristas”? Quem foi que os adjectivou assim? Que reacções provoca esta palavra a quem a escuta? O dicionário diz que terroristas são aqueles que comentem actos de terrorismo, definindo-o como o conjunto de actos de violência cometidos por uma organização, com o intuito de criar um clima de insegurança para derrubar o governo.
Terrorismo é um neologismo adjectivado do “terror” e dizer terror é dizer medo, atemorizar… É também, utilizando homónimos, falar em pavor, pânico. O terror está intimamente ligado à violência, que pode ser súbita ou persistente. O terror expressa uma situação extrema que fragiliza a condição humana, que a obriga a pensar em termos de sobrevivência, que subverte todos os padrões da normalidade e todos os valores éticos. O terror, evidentemente, é uma sensação individual, subjectiva, intimamente vinculada a mecanismos de instintivos de defesa e protecção, mas a sua acção é sempre desencadeada no âmbito social; é uma linguagem que nasce do desespero e que estabelece uma simbiose estranha com o contexto que a origina.
O terrorismo, evidentemente, é social. Está desenhado para nos atingir individualmente, mas concebido para actual globalmente. Funciona com a lógica do castigo, da advertência, da discriminação, da perversidade. O terrorismo impõe metas, marca fronteiras e estabelece uma classe de vítimas e sacrifícios. Escolhe as suas vítimas e as formas de comunicação para que o terror seja apreendido na sua forma mais pura.
O terrorismo existe para gerar medo e o medo só tem razão de ser quando é colectivo, quando se propaga pelas ranhuras da consciência e se instala em cada indivíduo. Esse medo paralisa, destrói os princípios da solidariedade, faz de cada ser humano uma partícula de violência. Esse medo corrói a memória, gera temores, provoca ressentimentos e altera as relações com os outros, rompendo qualquer possibilidade de solidariedade.
Quando a sociedade inteira é aterrorizada, dominá-la torna-se mais fácil. O terrorismo, contrariamente à sua acepção no dicionário, não é a acção de uma qualquer organização para provocar instabilidade e derrotar o governo. Na realidade, o terrorismo é uma estratégia para atemorizar o colectivo, é a perversidade do poder absoluto que pretende obter a submissão total, é uma táctica de amedrontamento feita para destruir o inimigo, é o apelo à violência social na sua forma historicamente mais pura, é a consequência da utilização e da administração preconcebida do medo, é o “grau zero”da solidariedade.
O verdadeiro terrorismo não está na bomba que explode num centro comercial, na rua ou noutro sítio qualquer. Essa bomba provoca surpresa, indignação, dor, ira, desejo de vingança, mas nunca um medo persistente, quotidiano, permanente. A planificação do medo requer uma actuação mais sistemática e elaborada, ou seja, mais técnica. Alguns regimes totalitários provocaram verdadeiros genocídios sem o mínimo protesto ou resistências de maior por parte das suas sociedades. Na sua planificação do medo, as razões do poder converteram-se em razões da história e foi impossível contrariá-las, resistir-lhes. Esta é a obsessão do terror, impossibilitar a resistência e torná-la também impensável.
As ditaduras do sul da América Latina, nos anos 60 e 70, fizeram do medo uma estratégia oficial para sustentar uma guerra suja contra os seus povos; Israel utiliza o terrorismo para dominar e controlar o Médio Oriente fazendo na realidade, do terrorismo, uma verdadeira política de Estado. Se o terrorismo é a planificação, administração e execução sistemática do medo, através do uso estratégico do terror, então afinal quem são os que podem ser considerados terroristas? Sabemos que aqueles que administram o medo e a violência não são chamados de terroristas. Aqueles que se justificam dizendo que recebem ordens, os soldados que participam em verdadeiras carnificinas com o pretexto de destruir o inimigo ou aqueles políticos que legitimam e defendem o uso do terror, jamais foram acusados de terroristas ou de favorecer o terrorismo. A ninguém lhes passa pela cabeça que o governo israelita, por exemplo, possa ser assumido como um governo terrorista, mas em contrapartida, em virtude de um processo de transferência de conotações, os terroristas serão aqueles que utilizam as formas mais artesanais da violência, quase sempre como resposta última e desesperada perante o outro terrorismo. É esta transferência de significantes que possibilita uma cómoda distribuição social de culpas e castigos. Em suma, os terroristas serão aqueles que caiam no jogo de responder à violência do poder com a violência da resistência. Durante o III Reich alemão, a resistência estava tipificada como terrorismo. O governo israelita também qualificou como terroristas os povos árabes palestinos. Os Estados Unidos encontraram no terrorismo a base de sustentação ideológico-política para o seu projecto de expansão imperial. A figura do “terrorista” serve de cobertura e de expiação. É uma figura necessária e imprescindível, que permite a construção de um discurso político e de uma actuação histórica, feita para manter o poder e a sua vigência continuada. O poder usa essa figura para construir discursos, consensos, unificar vontades, disfarçar intenções, articular estratégias e impor sanções e controle. A construção da figura do terrorista cria um rosto sem cara, que pode facilmente ser assumido como o inimigo “real” desse poder. É a construção de um ident-kit, no qual se podem adaptar, segundo as circunstâncias, perfeitamente os nossos próprios rostos.
Os verdadeiros terroristas querem que o mundo inteiro se adeqúe aos objectivos do seu próprio pensamento: pensar como eles, ser como eles, aparecer como eles, colaborar com eles.
Na verdade, o terror que nasce do poder necessita justificar-se, necessita uma vítima propiciatória que justifique os seus excessos e que perdoe as suas atrocidades. Então, aponta-nos os terroristas e diz-nos que são homens sem escrúpulos, instrumentos do mal que é necessários eliminar. Todos podem ser apontados como terroristas: os contestatários mais radicais, os sindicalistas, o movimentos rebeldes, os intelectuais comprometidos, os árabes muçulmanos… ninguém está seguro, e esse é mesmo o objectivo. A verdade é que são muitos os regimes que se dizem democráticos, e que fazem da administração sistemática do medo, a sua essência de poder.
A que chamo eu terrorismo afinal?
O verdadeiro terrorismo é aquele que é exercido pelos que simplesmente carregam nos botões, conduzem mísseis “inteligentes” assassinos, ordenam terríveis bombardeios e asfixiam economicamente os povos realmente inocentes. Este terrorismo de estado e de “colarinho branco”, que se exerce sem o mínimo pudor, comodamente sentado numa poltrona e sem arriscar minimamente a sua integridade pessoal, é muito mais baixo, mais indigno, mais cruel e mais cínico que a violência daqueles que usam a sua própria vida, o único que lhes resta, para defender as suas ideias e contra atacar os seus inimigos.

quinta-feira, maio 10, 2007

Ladrões de tempo

Q

uando se rouba dinheiro, jóias, quadros ou outro qualquer objecto de valor, se o ladrão se arrepender, pode sempre devolver o produto do roubo. Quando se rouba o tempo, não existe forma alguma de o devolver. O tempo perdeu-se, irremediavelmente. Cada um de nós pode fazer com o seu tempo, tudo o que lhe der na gana. Ninguém deveria dispor do tempo dos outros contra a sua vontade.
Vítor Hugo dizia: "A vida é curta e ainda a encurtamos mais com o insensato desperdício de tempo". O problema está em que uma boa parte da perda é forçada por pessoas incapazes de respeitar os bens alheios. Há pessoas que roubam o tempo dos outros de forma impune. Diz-se que o tempo é ouro, mas não me parece que possua os mesmos quilates daquele que é usado para fabricar jóias. Porque se arrogam o direito de no-lo roubar? Ainda que o queiramos "gastar mal", esse tempo é nosso! E o problema ainda é mais grave, na medida em que esse roubo se faz em plena luz, descaradamente, impunemente. O tempo é ouro

Podia enumerar múltiplos exemplos. Mas vou apenas referir-me a dois: engarrafamentos e filas em algumas repartições públicas. Cada um de nós deve ter uma experiência abundante de situações idênticas de roubo.
Todas as manhãs, para chegar ao trabalho, muitos cidadãos têm de passar por entupimentos enormes de trânsito. E o mesmo acontece ao final do dia, de regresso a casa. Todos os dias. Felizmente, este é um problema que não me aflige porque estou a 8 minutos em transporte público do meu local de trabalho. Mas, quando tenho de ir a Lisboa fico com enxaqueca logo na véspera, só de pensar naquilo que vou ter de passar. Quem nos devolve o tempo perdido olhando a matrícula do carro da frente? E todos os dias o mesmo, ainda que seja uma matrícula diferente…
Quando vamos a um Banco, por exemplo, precisamos de fazer fila de uma forma quase sistemática. Reparamos num "guiché" com o aviso correspondente: FORA DE SERVIÇO. E pensamos porque diabo não nos atende a pessoa que está por detrás da janelinha. Simplesmente porque está a fazer o serviço que interessa ao Banco. Mas com mais pessoal poderiam certamente atender os clientes e gerir o nosso dinheiro, não? Será que os gerentes não vêem as filas? Não sabem que com mais pessoal, estaríamos menos tempo à espera? Quem nos devolve esse tempo perdido?
Quando precisamos de resolver algum tipo de processo numa repartição pública, é para esquecer. Demoras e mais demoras, constantes pedidos de mais este ou aquele documento, de novo demoras, pedidos de informação que não chegam, escusas dos serviços com outros organismos, de novo mais demoras e fazemos por esquecer que o nosso tempo precioso não tem para eles nenhum valor. Apenas tempo perdido… O mais que pode acontecer é recebermos uma explicação de credibilidade duvidosa.
A verdade é que não permitiríamos a um ladrão fugir impunemente depois de ter pedido perdão por nos roubar a carteira: "Perdoe a moléstia, senhor (ou senhora) mas acontece que eu preciso de aumentar as minhas disponibilidades monetárias". O que mais me indigna é que nos tomem por idiotas.
A verdade é que o tempo dos poderosos é ouro, e o dos cidadãos é lixo. Não há pois problema se o deitarmos fora. O tempo perdido é inversamente proporcional à categoria das pessoas. Quanto mais categoria, menos tempo perdido, quanto menos categoria, mais tempo roubado. Às vezes surpreende-me a paciência de alguns que conseguem aguentar sem refilar. Ficam nas filas do Banco e não mostram o mínimo sinal de impaciência. Os condutores, entretêm-se nos engarrafamentos, tamborilando com os dedos sobre o volante ao som da música do rádio. Será que alguma vez fizeram o cômputo do tempo perdido à semana, ao mês, ao ano, na vida? Se o fizessem, descobririam que lhes estão roubando uma parte importante. Que fazer então? Ir a tribunal a denunciar os ladrões? É impressionante a impunidade dos ladrões de tempo. Nunca lhes acontece nada. Ninguém entra com as algemas num Banco para prender o gerente, ninguém se lembra de colocar o ministro das obras públicas na prisão e ninguém grita "ladrão" quando o seu tempo é sistematicamente roubado numa repartição pública. Ao pobre desgraçado que rouba uma galinha (ou um creme de 3,99 euros) levam-no a tribunal.
O tempo é de cada um de nós. Ninguém tem o direito de delapidá-lo. Bernard Berensen, conhecido critico de arte, quando estava quase a cumpri 90 anos, disse: "Gostaria de colocar-me numa esquina com um chapéu na mão, pedindo aos transeuntes que depositassem nele todos os minutos da sua vida que não chegaram a usar".
Todos nós pacientes (e impacientes) cidadãos deveríamos processar a quem nos rouba um bem tão precioso, porque não há direito a cometer estes roubos a plena luz, de forma tão descarada e com impunidade total.

sexta-feira, maio 04, 2007

Marionetas

D efendo que uma sociedade é mais rica quando a participação dos seus cidadãos é maior e a sua personalidade mais desenvolvida. A personalidade, como consciência íntima de projecção individual, de interpretação subjectiva do sentido da vida, assenta no amadurecimento do conhecimento intelectual. Pressupõe a determinação da singularidade do indivíduo em pessoa autónoma.


E ssa diversidade da personalidade, não obstante ser um dos factores decisivos para o progresso social, representa para aqueles que dirigem (governam) a comunidade, o maior obstáculo ao exercício do poder. As estruturas políticas cumprem melhor o exercício do poder que se propõem, quanto maior for a uniformidade da massa social que administram e menor a dispersão de critérios. Por exemplo, as estruturas económicas procuram a uniformidade no consumo, com o objectivo de facilitar a planificação da produção. A pressão que o poder exerce sobre a sociedade favorece a uniformidade e força a personalidade dos cidadãos a padrões preconcebidos.

Esta tendência torna-se real mediante a promoção de ideais que modelam a vontade dos cidadãos. E como? Através da manipulação das populações, utilizando a propaganda política ou a publicidade comercial. Percebe-se facilmente que existe uma finíssima margem entre a informação e a coacção psicológica, o que determina por si só um limite à própria liberdade. Concluir que um cidadão é livre na medida em que exerce mediante sufrágio, a sua opinião sobre algumas realidades sociais, não é mais do que uma "concepção pobre" da liberdade.

Uma sociedade é tanto mais livre, quanto mais participativa e organicamente mais dinâmica for a sua estrutura.

Os poderes, segundo o adágio romano de pão e circo costumam distrair os cidadãos das suas próprias responsabilidades, transmitindo-lhes a imagem de que a sua segurança e progresso estão garantidos. Assim, as pessoas satisfeitas nas suas necessidades primárias, adiam o hábito de pensar e convertem-se em indivíduos amorfos.

Contra essas condutas totalitárias, mais ou menos revestidas de democracia, a única contenção está no desenvolvimento da cultura humanística que desperte no indivíduo a sua capacidade protagonista e o leve a interrogar-se se a sociedade que se constrói ao seu redor corresponde à sua expectativa de progresso social.

São muitos os "poderes" que se podem utilizar para silenciar a iniciativa pessoal, obrigando-nos a vaguear no mundo como marionetas. Alguns tão antigos como pão e circo, transformaram-se hoje em televisão e consumo.

Magnolia

terça-feira, maio 01, 2007

1º de Maio

Feliz dia para aqueles que trabalham... e mais ainda para aqueles que querem fazê-lo e não podem.

Ricardo Carpani, "Desocupados" (argentino, 1960).


Memórias de
Um tempo não muito distante...

Recordações que deixam
mágoa, saudade e alegria, ao mesmo tempo...
Momentos que recordo com ternura:
"Ti" Adriano, o que nos contava os discursos e as conversas macias que no tempo de Salazar, o ditador, entremeavam com porrada, exploração e guerra, até fartar, para cima dos trabalhadores. A única abundância.

Quantas onças de tabaco dizias que fumavas, por dia, nessas occasiões, escondido em cima das azinheiras e dos sobreiros, com a guarda a cavalo à tua procura a mando do "lavrador" e da PIDE? Eu já não me lembro!

Belos serões aqueles! Tu a contares essas histórias na tua casa pobre, de chão de terra batida e telhado de telha-vã. O que te valia era o lume de chão e aquele bagaço que tinhas para os camaradas - que eu detestava e tu te rias - enquanto a conversa corria, encantadora, a dar conforto, a despertar vontades e sonhos. Noite fora.

Um poema é feito de muita coisa. Os homens e as mulheres têm o direito de sonhar. O dever de sonhar. E não faz mal ter presente Goethe: "A teoria, meu amigo, é parda, mas verde é a eterna árvore da vida". E. Hemingway: "Um homem pode ser destruído mas não derrotado". Catarina Eufémia. António Maria Casquinha. José Geraldo.

As formigas de asa chegam com a terra molhada. Lavrada. Penetrada pelo arado. Fecundada. O pássaros comem a bicheza que fica nas leivas levantadas pela charrua. O cheiro primitivo e quentte da terra remexida. As sementeiras. Pão. O pão que produzias e faltava na tua casa.

As ceifas. Doze horas curvado. De sol a sol. Calores tórridos. A jornada de miséria. A fome. O insuportável suportado. Latifúndio. Coutadas. Ganhões.Restos de um tempo. Feudalismo. A praça de jorna. O dia de greve. Os que partem. As tuas lágrimas. No campo, o poço. Água fresca. Cantares de um povo que sofre. Rejeição do esquecimento. Resistência. Até à Revolução de Abril. Depois, o 1º de Maio. A tua festa! Évora. Milhares de trabalhadores!

* Post recuperado do ano passado e editado.