terça-feira, novembro 28, 2006

A outra missa do galo...

Ao ler este post do Leandro constatei que o problema do consumo é um vírus mundial que afecta cada vez mais a todos nós. Mas, ao contrário de outros vírus, a cura está nas nossa mãos. Um tema que merece um alerta.


À

medida que se aproxima a quadra natalícia, o comércio e os meios de comunicação lançam sobre os cidadãos, a malfadada ofensiva que consiste em repetir, até à exaustão, mensagens de paz, de amor e, sobretudo, de consumo. À obrigatoriedade de sermos felizes, bondosos, solidários, entranhadamente familiares, alegres e divertidos, junta-se
a mais sagrada de todas as obrigações: a de comprar.Consumir até não restar uma fatia sequer...
A celebração do natal e o “ir às compras”, transformaram-se, nesta sociedade de consumo, em actividades complementares, se não mesmo sinónimas.
A publicidade encarrega-se de nos fazer crer que existe uma necessidade de participarmos nestas festividades, e converte-nos a nós próprios, nos protagonistas dos acontecimentos. Transmite-nos a ideia de que, se não participamos, somos “não solidários” inumanos, egoístas, pobres de espírito, em suma, desmancha-prazeres. E qual é então a melhor (se não a única) forma de participar? Muito fácil: consumindo, comprando…
A lista de compras imprescindíveis, torna-se cada ano mais exaustiva: alimentos para comidas e ceias especiais, bebidas, participações em jogos de fortuna e de azar, adornos para o lar, roupa e adereços para brilharmos elegantemente nos dias assinalados, presentes para todos e para quase todos os dias, brinquedos, bilhetes para festas, concertos e outros saraus…
O número de “necessidades” multiplica-se, e parecem concentrar-se milagrosamente em apenas duas semanas de Dezembro.
Ao mesmo tempo que se estende a lista de compras obrigatórias, assistimos a uma curiosa antecipação da quadra natalícia. Antigamente, a febre consumista arrancava bem mais tarde, nos meados do mês de Dezembro. Agora, o frenesim das compras começa logo em finais de Novembro, ou mesmo antes. Os cartões de crédito animam-nos a adiantar-nos na data da “euforia gastadora”, por razões óbvias. E como se não bastasse os bancos brindam-nos “bondosamente” em época de solidariedade com empréstimos a juros “baixíssimos”, para nos ajudarem a ficar bem com a nossa consciência benemérita, ao mesmo tempo que contribuímos para a sua prenda no sapatinho.
Se somos inteligentes, sabemos isto tudo… porque continuamos sempre a ser levados? Falta de coragem em sermos diferentes?

sábado, novembro 25, 2006

Um Mundo... mundos diferentes

---------- O Desejo ----------
D

esde que nos disseram que estávamos de “tanga” que os portugueses se colocaram uns contra os outros, enquanto sectores sociais – público ou privado – e, dentro do primeiro, encontramos, inclusive, diferentes grupos profissionais. Um aspecto que tem sido utilizado frequentemente quer pelo governo, quer pela direita, quer ainda pelos media para denegrir a imagem dos trabalhadores da Administração Pública, e virar os trabalhadores privados contra os funcionários públicos, é a questão das remunerações e da “regalias” na segurança social, diferentes do sector privado. Abismo entre público e privadoHá dias, na sala de espera da dentista, ouvi os maiores disparates que se possam imaginar numa conversa de mulheres (mera casualidade) que, sem o mínimo conhecimento de causa ou de adequada justificação, atacavam os trabalhadores da função pública, considerando-os o “cancro” da crise que vivemos actualmente, fazendo jus aos verdadeiros objectivos do governo: interiorizar nos portugueses a ideia de que a Administração Pública (inevitável bode expiatório) é a génese da culpabilidade de todas as medidas que têm sido implementadas e que não agradam a ninguém. Enquanto ouvia a referida conversa, ocorreu-me à ideia uma história antiga que ilustra bem o estado de espírito de alguns.
A história, acontecia em África, num tempo não determinável de um local muito pobre. Um homem revela-se desesperado. Fora agricultor e tinha perdido tudo, numa terra seca por muitos anos sem chuva. Estava só, pois a sua mulher e filhos tinham partido. E vivia numa cabana quase a cair, nada tendo sequer para comer. Certa manhã, o homem saiu da cabana e sentou-se no chão, encostando-se ao tronco de uma árvore. Quase de imediato, surgiu do nada um duende, mesmo ali à sua frente. O espanto do homem foi enorme e mais ainda quando essa figura mágica lhe disse: “Concedo-te um desejo. O que desejares será concretizado. Seja o que for, apenas um desejo. Mas com uma condição: aquilo que desejares, ser-te-á concedido a ti e em dobro ao teu vizinho do lado. Volto amanhã, exactamente por esta hora, para saber da tua decisão e o desejo será imediatamente concedido”. E o duende desapareceu. Depois do espanto, o homem sentiu medo. Duvidava do que lhe tinha sido proposto, porque duvidava de si mesmo. Pensava que o desespero lhe tivesse toldado o espírito e a razão. Mas nada tendo, nem nada para perder, rapidamente abandonou o medo e começou a entusiasmar-se. As coisas pequenas que começou por desejar foram tomando volume. Uma bela seara, pensou. Que lhe desse grande rendimento. Teria trabalho e alimento. E teria então condições para reorganizar a sua vida. Mas enquanto imaginava semelhante seara, lembrou-se do vizinho… com quem estava muito zangado e há muito tempo. O vizinho teria una seara duas vezes maior! E sem qualquer esforço. Nem pensar, concluiu.
Mas não querendo perder a oportunidade, o homem pensou: iria para a cidade e deixaria de viver naquele lugarejo. Desejaria um grande comércio, instalado numa bela loja. Venderia de tudo um pouco e ficaria finalmente rico. Só que, nesse caso, o vizinho teria uma loja duas vezes melhor e venderia duas vezes mais coisas. Não o podia permitir! O vizinho seria duas vezes mais rico! Nem pensar, concluiu novamente. Desejou então uma companheira. Bonita, muito bonita. E o vizinho… teria duas mulheres tão bonitas como a sua ou então uma mulher duas vezes mais bonita que a sua. E mais uma vez concluiu: nem pensar!!
O dia e a noite correram sem que o homem conseguisse dormir. Foi formulando desejos de que imediatamente desistia porque nem queria sequer imaginar que o seu vizinho iria ter o dobro do que lhe seria concedido a si. Que injustiça! O duende era seu e a sorte era sua. E o vizinho ia aproveitar-se de tudo isso. Não, não o permitiria nunca.
A manhã chegou e o homem estava esgotado com a briga solitária que travara. E chegou também a hora do duende, que apareceu conforme havia prometido ao homem, solicitando que expressasse então o seu desejo. O homem não hesitou. Pediu ao duende que lhe arrancasse um olho.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Plano Inclinado

Ficar mal no retrato...

”Entre socialistas e conservadores há alternância mas não há alternativa”, Manuel Alegre, in Diário de Notícias de 21-10-2006.

”O PS está a governar com o programa com que o PSD se apresentou a eleições”, fonte não identificada do grupo parlamentar do PSD, in Diário de Notícias de 21-10-2006.

Saber o que os outros pensam de nós é indispensável se nos queremos conhecer melhor. Há poucas semanas a TVE, a televisão pública espanhola, passou um programa sobre o nosso pais. Os programas informativos da TVE são, desde há muito, reconhecidos como de grande qualidade e por isso devemos reflectir sobre o “retrato” de Portugal, que lá foi revelado.
Um país em que o interior se despovoou em favor do litoral, em que a agricultura acabou, trocada por subsídios, um país com resquícios medievais que se manifestam no facto de ainda não termos resolvido a questão do aborto, em que os fundos comunitários não foram devidamente aproveitados para modernizarmos o nosso aparelho produtivo, em que o turismo algarvio periga, ameaçado por uma especulação imobiliária desenfreada.
Nesta reportagem não houve apenas lugar para o mau, apareceram também os nichos de excelência: o que sobrou da indústria têxtil porque soube reestruturar-se tecnologicamente para responder à globalização, os vinhos, a cortiça e pouco mais. Mas o que de mais negativo este programa da TVE destacou sobre Portugal foram as desigualdades sociais, o fosso crescente entre os mais ricos e os mais pobres. Cruel, este retrato de Portugal, talvez demasiado esquemático, mas verdadeiro.
Recordo-me de quando jovem ter atravessado pela primeira vez a fronteira e ficar com a sensação de que a Espanha era um país ainda mais pobre do que nós. A democracia veio mudar tudo. Espanha e Portugal encontraram o caminho do desenvolvimento. Mas a Espanha começou bem cedo com as mudanças estruturais necessárias.
Ainda antes da adesão dos dois países à CEE, o governo presidido por Filipe Gonzalez procedeu à reestruturação do tecido empresarial espanhol. Isso foi feito com custos sociais enormes que atirou o desemprego para os 20%, valor que só nos últimos anos se aproximou de valores aceitáveis. Na mesma altura, foi reformulado o sistema fiscal e puseram os ricos a pagar impostos a sério. Consolidou-se uma classe média com alto poder de compra, o que é indispensável para que uma economia funcione bem. E a evidência aí está: dantes, a Europa começava para lá dos Pirinéus; agora é já ali ao passar da fronteira.
Um estudo publicado recentemente no nosso país, veio revelar que 20% dos portugueses vive abaixo do limiar da pobreza, isto é, um em cada cinco portugueses, é pobre. Trinta e dois anos depois da revolução de Abril, depois de muitos e muitos milhões de contos e de euros que entraram em Portugal, vindos da Europa, depois de termos sido governados alternadamente por social-democratas e por socialistas, cujos partidos proclamam como uma das suas principais bandeiras a justiça social, a situação da pobreza em Portugal deveria envergonhar quem nos tem governado. Deveria envergonhar, mas infelizmente não envergonha. Ainda por cima Portugal é o país da UE em que é maior o fosso entre os mais ricos e os mais pobres. Mais ainda: este fosso não diminui, antes aumenta de ano para ano.
Vivemos anos difíceis, com orçamentos de Estado para lá de rigorosos em que, não há que escondê-lo, os mais fracos são os que mais sofrem. A classe média tem visto o seu nível de vida afundar-se, nível de vida que, diga-se em abono da verdade, foi alcançado artificialmente com a entrada dos fundos europeus e com o recurso ao crédito bancário. Aos ricos, esses, não conta que a crise tenha afectado muito.
Os objectivos proclamados pelo actual governo como justificação para as medidas impopulares, muitas delas incorrectas e injustas, são os de colocar em ordem, reduzir o défice e fazer com que o Estado funcione melhor e com menos custos. Gostaria pois de ouvir os nossos responsáveis governamentais dizerem que uma das suas prioridades é criar as bases para que a nossa sociedade se torne mais justa e mais solidária. Mais: gostaria de ver que se tomam medidas efectivas nesse sentido. Porque se for para daqui a cinco ou dez anos haver ainda em Portugal 20% de pobres e continuarmos a ser o país da UE onde é maior a injustiça social, então o combate ao défice, o equilíbrio das contas públicas e o Estado mais eficaz, servem para quê?


V.F. da Silva in "Mais Alentejo", Nov.2006

sexta-feira, novembro 17, 2006

Democracia - versus - ditadura

O último fim-de-semana foi marcado politicamente pelo tão badalado (e nada mais que isso) congresso do PS e, como um troféu inesperado, a palavra democracia surgiu em todas as bocas, tentando justificar as políticas desastrosas deste "socialismo moderno". Será que alguém ainda acredita que vivemos num país democrático? Não, não enlouqueci de vez… mas analisando bem as coisas, considero que vivemos actualmente numa espécie de democracia "hip hop", tal qual a dança de rua, genuína, mas que não entra nos gabinetes ministeriais. Analisando melhor ainda, o mais correcto é chamar-lhe "ditadura moderna"… senão vejamos:


D efinir ditadura como um conceito oposto à democracia, é um pouco ambíguo. Se a ditadura contempla abusos, atitudes despóticas, violência exercida sobre minorias ou sectores débeis da sociedade, não podemos afirmar que tal não aconteça nas chamadas "democracias modernas". Por isso, o melhor será dizer que a ditadura é apenas um aspecto técnico do exercício da opressão de uma classe sobre outras.
Geralmente, a ditadura é associada a uma ocupação militar ou ao estabelecimento de um regime de repressão política aberta, mas a verdade é que a burguesia refinou os seus métodos para a luta de classes, conseguindo que se entenda como "vontade democrática" e "direito de polícia" o que na realidade não é mais do que opressão violenta de umas classes sobre outras para garantir os seus privilégios.Em busca de um mundo melhor...

Passar o rato sobre a imagem

É a ausência de democracia, tal como é considerada há mais de 2.000 anos. Segundo Aristóteles, "não há democracia onde um certo número de homens livres, que estão em minoria, mandam sobre uma multidão que não goza de liberdade".
Numa ditadura, o ditador, (aquele que dita) diz o que se há-de fazer, falsificando a lei ou moldando-a à sua conveniência. Na era moderna, o "ditado" transforma-se em lei por meio da "ditadura da mão no ar" exercida nos parlamentos pelas maiorias ocasionais. A vontade popular está mediatizada, depositada nas mãos de uma maioria parlamentar, organizada disciplinarmente por detrás de uma "vontade única" que é a do governante ou do seu partido. O antigo "ditador" foi substituído pela figura governamental que exerce o poder hegemónico alcançado pelo seu partido, como resultado do endosso da soberania popular, entregue resignadamente pelo povo.
A hegemonia da democracia burguesa, assenta numa estratégia de controlo e dominação social que utiliza a escola, os media, o "terror económico", o clientelismo político, a violência política. Mas apesar disso, é uma figura fictícia, uma vez que tanto nos chamados regimes "democráticos" como nos ditatoriais, o verdadeiro poder nunca está nas esferas do estado, mas sim nos grupos do poder económico, dos quais as entidades "democráticas" são simples gerentes.
O povo reclama uma vida digna, trabalho, habitação, justiça, mas a resposta é a exclusão social, salários e pensões medíocres, repressão e até prisão. Se isto não é uma ditadura, o que é? A falsa opção de votar cada quatro anos em qualquer das duas faces da mesma mentira, só serve para perpetuar a ficção democrática, o mito. Opta-se apenas por um governante que não é mais do que um gerente de interesses alheios, poderosos, transnacionais, que o exercício do poder põe em evidência. "Alguns homens – dizia Chesterton – as máscaras não os disfarçam, pelo contrário, mostram a sua verdadeira identidade. Cada um, disfarça-se daquilo que é por dentro."

Magnolia

domingo, novembro 05, 2006

Até sempre...

Nunca imaginei que alguém se importasse com o facto do Abafos & Desabafos terminar, e tenho de dizer que fiquei sensiblizada com os comentários inseridos neste post. Agradeço a vossa simpatia e amizade. Por vezes, sentimo-nos derrotados e desiludidos ao ponto de "entregar as armas" e zarpar para longe. Mas nenhum lugar é longe o suficiente!
Sendo assim, nada mais nos resta do que continuar firme nas nossas ideias e convicções, na certeza de que o amanhã terá de ser um dia melhor. É por isso que a Magnolia não zarpará de vez e estará ausente apenas alguns dias. Obrigada a todos em geral pelo carinho demonstrado, e em especial ao meu amigo a.castro que desde sempre apadrinhou este blog, e pelo enorme "trabalhão" que teve na recuperação de tantos links.



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Primavera“Sempre cheguei tarde
ou cedo demais.
Não vi a felicidade acontecer.
Nunca floresceram
em minha primavera
as rosas que sonhei colher.
Mas sempre os passarinhos
cantaram e fizeram ninhos
pelos beirais
do meu viver.”


Helena Kolody

sexta-feira, novembro 03, 2006

Notas e factos...

Nos regimes totalitários...


Nos regimes totalitários, a Informação trata quase exclusivamente dos assuntos que interessam ao partido do poder.
Nos regimes totalitários, escondem tudo o que possa prejudicar o governo.
Nos regimes totalitários, o primeiro-ministro proíbe os outros elementos do governo de falarem sem seu consentimento.
Nos regimes totalitários, as notícias trazem o carimbo oficial.
Nos regimes totalitários, cada ministro tem a sua câmara de televisão privada.
Nos regimes totalitários, são silenciadas todas as acções da oposição.
Nos regimes totalitários, a televisão é só para os ministros, subsecretários ou seus protegidos.
Nos regimes totalitários, o primeiro-ministro aparece em todas as emissões, todos os dias, todo o dia.
Felizmente que em Portugal não temos um regime totalitário!