À
medida que se aproxima a quadra natalícia, o comércio e os meios de comunicação lançam sobre os cidadãos, a malfadada ofensiva que consiste em repetir, até à exaustão, mensagens de paz, de amor e, sobretudo, de consumo. À obrigatoriedade de sermos felizes, bondosos, solidários, entranhadamente familiares, alegres e divertidos, junta-se
a mais sagrada de todas as obrigações: a de comprar.
A celebração do natal e o “ir às compras”, transformaram-se, nesta sociedade de consumo, em actividades complementares, se não mesmo sinónimas.
A publicidade encarrega-se de nos fazer crer que existe uma necessidade de participarmos nestas festividades, e converte-nos a nós próprios, nos protagonistas dos acontecimentos. Transmite-nos a ideia de que, se não participamos, somos “não solidários” inumanos, egoístas, pobres de espírito, em suma, desmancha-prazeres. E qual é então a melhor (se não a única) forma de participar? Muito fácil: consumindo, comprando…
A lista de compras imprescindíveis, torna-se cada ano mais exaustiva: alimentos para comidas e ceias especiais, bebidas, participações em jogos de fortuna e de azar, adornos para o lar, roupa e adereços para brilharmos elegantemente nos dias assinalados, presentes para todos e para quase todos os dias, brinquedos, bilhetes para festas, concertos e outros saraus…
O número de “necessidades” multiplica-se, e parecem concentrar-se milagrosamente em apenas duas semanas de Dezembro.
Ao mesmo tempo que se estende a lista de compras obrigatórias, assistimos a uma curiosa antecipação da quadra natalícia. Antigamente, a febre consumista arrancava bem mais tarde, nos meados do mês de Dezembro. Agora, o frenesim das compras começa logo em finais de Novembro, ou mesmo antes. Os cartões de crédito animam-nos a adiantar-nos na data da “euforia gastadora”, por razões óbvias. E como se não bastasse os bancos brindam-nos “bondosamente” em época de solidariedade com empréstimos a juros “baixíssimos”, para nos ajudarem a ficar bem com a nossa consciência benemérita, ao mesmo tempo que contribuímos para a sua prenda no sapatinho.
Se somos inteligentes, sabemos isto tudo… porque continuamos sempre a ser levados? Falta de coragem em sermos diferentes?