sexta-feira, julho 28, 2006

Apenas" um jogo de vídeo?



World in Flames

Mercenários 2 – O Mundo em Chamas" é um jogo de video que vai sair para o ano, certamente entre dezenas de milhares de outros que alimentam - ou criam, vá-se lá saber - a necessidade de jogar no computador ou na consola. O que o torna especial é tratar-se de um simulador da invasão da Venezuela por forças mercenárias dos EUA em 2007, para derrotar um «tirano sedento de poder» que se apropria das reservas de petróleo e «transforma o país numa zona de guerra». Inclui cenários reais das ruas e edifícios de Caracas, da companhia petrolífera nacional e imagens de satélite verdadeiras. O Governo venezuelano denunciou o lançamento do jogo como um elemento da «campanha de terror psicológico» dos EUA contra o país. A produtora diz que «é só um jogo de vídeo».A polémica tem sido grande em todo o mundo. Tão grande, que a produtora do jogo se viu obrigada a publicar no seu sítio na internet um esclarecimento: «nunca foi contactada por qualquer agência do Governo dos Estados Unidos acerca do desenvolvimento do jogo.» Mas é preciso que as histórias dos jogos sejam plausíveis, acrescenta. Lá está: para esta gente, é plausível que a Venezuela seja atacada militarmente pelos EUA. Tal como o título deixa claro, este jogo uma sequela. Na primeira edição, os mercenários tinham como missão matar um general do exército da Coreia do Norte (sic), portador do código que daria início a uma guerra nuclear. O objectivo n.º 1 era, claro, garantir a segurança do mundo. A produtora tem tradição neste tipo de jogos. Recebeu 5 milhões de dólares para fazer um jogo de treino para os soldados do Exército dos EUA, em que estes se confrontam com cenários de combate urbano. Uma das missões do jogo chama-se «Dia das Eleições» e os soldados devem garantir a segurança de um acto eleitoral num país onde as pessoas lhes chamam «porcos capitalistas». Porque será?O jogo é produzido por uma das empresas de George Lucas – a Pandemic Bioware Studios, financiada em 300 milhões de dólares por uma outra, a Elevation Partners, que tem como sócio Bono Vox, o caridoso vocalista dos U2. Bono é conhecido nos últimos anos pelas suas encenações de contra-poder, participando em concertos pela abolição da dívida aos países africanos e reunindo depois com os senhores do G8. E assim cai mais uma máscara de falso pacifista e humanizador do capitalismo.Quem disse que não havia ofensiva ideológica?
Nota: A Venezuela não é a única a sofrer com uma guerra em games. No Kuma War, o Irã é invadido pelo exército. Enquanto George W. Bush pensa em invadir o país, o jogo permite brincar com diversas sabotagens nas centrais nucleares iranianas.


terça-feira, julho 25, 2006

A talhe de foice

Tão perto e tão longe...

Israel está a bombardear o Líbano desde o passado dia 12, no que diz ser uma resposta ao sequestro de dois soldados seus pelo Hezbollah. A operação, segundo o chefe de Estado Maior adjunto do exército israelita, general Moshé Kaplinski, deverá prolongar-se pelo menos por mais uma semana.( duas semanas já lá vão e possivelmente muitas mais se seguirão) No encerramento desta edição, (a 20 de Julho) o número de mortos ascendia já a duas centenas e meia, enquanto a destruição de edifícios e infra-estruturas (pontes, estradas, aeroporto, centrais de electricidade e abastecimento de água, entre outras) prosseguia a um ritmo devastador.Longe do cenário de guerra – onde não chega o cheiro a sangue, nem os gritos de dor, nem os estilhaços das bombas, nem o som das derrocadas, nem o aguilhoar do medo sem medida –, lá longe, dizia, a União Europeia condena os ataques do Hezbollah e o rapto dos dois soldados israelitas, exigindo a sua libertação imediata, e pede «contenção» a Israel, cujo direito à autodefesa não contesta.Igualmente longe do cenário de guerra – onde as imagens das crianças mortas, se é que chegam, causam tanta emoção como as das chacinadas alegremente por heróis de jogos de vídeo; onde a dor sem remédio de perder um filho é medida por bitolas que distinguem aliados de adversários; onde os direitos de uns não fazem sequer sentido fora do âmbito dos interesses de outros –, lá longe, dizia, o Conselho de Segurança da ONU não conseguiu sequer produzir um comunicado sobre a situação no Líbano, já que os EUA rejeitam a exigência de um cessar-fogo até que Israel dê por concluída a «operação» que está a levar a cabo.Mais longe ainda do cenário de guerra – e todavia tão próximo dos que usam e abusam do poder de exterminar povos, invadir países e semear a destruição –, lá longe, dizia, na cimeira do G8, Bush e Blair mostraram involuntariamente ao mundo como de facto encaram a carnificina que está a ser cometida no Líbano, ao falarem sem dar conta que os microfones (e as câmaras) da reunião estavam ainda ligados. «O que é preciso é envolver a Síria, de forma a que o Hezbollah pare de fazer merda e pronto», disse Bush, mais preocupado em regressar a casa do que com os mortos no Líbano ou em qualquer outro lugar do planeta.Amanhã, como ontem, a Casa Branca e as centrais de desinformação farão saber que o «eixo do mal» – para o caso Síria e Irão – são os verdadeiros responsáveis pelas vítimas das bombas israelitas e que não há vida que valha os interesses do império.Enquanto isso, Israel vai continuar a sacrificar os seus próprios filhos, distinguindo-os apenas com a duvidosa honra de considerar que o seu sangue derramado vale infinitamente mais do que o sangue dos filhos alheios, pelo que por cada um que tombar há que matar centenas de outros. Esta contabilidade macabra não resgatará nenhum da morte, não aliviará a dor do luto, não encherá o vazio da perda, mas contribuirá sem dúvida, como até aqui, para estimular o ódio e alimentar a intolerância mútua. Longe, muito longe das bombas e das vidas ceifadas, os senhores da guerra e seus acólitos congratulam-se. As armas vendem-se como tremoço, o petróleo sobe, os lucros aumentam, o negócio vai bem e recomenda-se.

Anabela Fino in Avante

sábado, julho 08, 2006

Férias

Este blog
vai de férias e,
durante 15 dias
não haverá desabafos!

sexta-feira, julho 07, 2006

Democracia

Sobre o conceito de democracia...


Nos próprios países capitalistas desenvolvidos há várias manifestações que mostram como a democracia não é um dado adquirido e consolidado...

trabalho, por exemplo, mas dizer que a sociedade capitalista reconheceu abstractamente e juridicamente, direitos e liberdades, também eles concebidos de uma forma abstracta, isto é, abstraída do modo de funcionamento concreto da sociedade. Esta distinção é importante, se for vista como um “catálogo” de direitos e liberdades, como princípio teórico de fundamentação na crítica que faço à sociedade capitalista e ao modo como a democracia é exercida nas sociedades capitalistas. Qual é o modo de compatibilização entre o direito ao trabalho e o direito a explorar? O direito a um estatuto social e poder social, a um determinado poder político e um determinado poder cultural, com base na exploração do trabalho de outros?
Há ainda outras perguntas que têm a ver com o princípio da igualdade, do direito de voto e da universalidade do direito de voto, nos seus estritos termos formais. Não posso calar esta pergunta: o voto do Belmiro de Azevedo ou do Champalimaud é igual ao voto de um desempregado têxtil do Vale do Ave? Esta Pergunta é demagógica ou capciosa? Ou realmente aponta para qualquer coisa que se passa e que tem a ver com a vida real? Tenho de facto que argumentar que não é igual. Não é concretamente igual, nem na formação da vontade e da escolha, portanto no que precede o voto, nem depois do voto.
E isto tem a ver com o problema de tornar reais e efectivamente exercidos, direitos e liberdades que eu própria defendo. Tenho pois, e em meu entender, de concluir que a questão de tornar esse exercício efectivo e real, pressupõe desde sempre, a realização de condições materiais.
E onde está efectivamente a democracia quando, num acto eleitoral existe uma elevada taxa de abstenção? Como é possível afirmar que os governos eleitos são realmente o reflexo da vontade democrática dos povos, quando é o povo que se abstém de fazer a sua escolha? Acresce ainda o facto de que, quando a democracia é apenas para 20 ou 30 por cento, o poder não pode ser considerado de forma alguma um poder democrático...

Sendo o sistema capitalista hoje, um sistema mundial, isto é, que existe em todos os continentes e que é dominante à escala mundial, é completamente inaceitável a associação entre capitalismo e democracia quando conhecemos o que se passa no Terceiro Mundo, no chamado Quarto Mundo, etc… ou seja, o modo como o capitalismo concilia, apoia, aguenta, sustenta, promove e provoca situações não democráticas, um pouco por todo o lado no mundo.
Nos próprios países capitalistas desenvolvidos o que é que se tem vindo a passar com o estado da democracia? Há vários sintomas e várias manifestações que mostram como a democracia não é um dado adquirido e consolidado e sofre crescentes restrições. É evidente que nesses países a conexão entre as várias esferas da democracia está profundamente quebrada, distorcida ou não existe mesmo.
Fenómenos como a abstenção nas votações em países como EUA, Alemanha ou Inglaterra, são significativos do alheamento de grandes partes da população na escolha dos seus dirigentes políticos. Por outro lado, o modo como os meios de comunicação social, designadamente a TV, funcionam no mundo capitalista contemporâneo são uma ameaça efectiva ao exercício real das escolhas políticas. E isto é reconhecido por muitos intelectuais não marxistas…
Marx, e designadamente Lenine em “O Estado e a Revolução”, salientam uma distinção entre o reconhecimento formal das liberdades e a democracia real ou material. Mas não se trata de fazer essa distinção (direitos e liberdades formais e direitos ou liberdades reais ou materiais) enquanto coisas distintas. Mas sim um outro tipo de distinção: a crítica ao modo como o reconhecimento formal da democracia, dos direitos e das liberdades não correspondia (e não corresponde todavia) ao exercício real desses direitos e dessas liberdades nas sociedades capitalistas. O problema não está, portanto, em distinguir direitos que são formais, como a liberdade de expressão ou de voto, e direitos que são materiais ou reais, como o direito ao

quinta-feira, julho 06, 2006

Proteger a Floresta

Uma Ideia Luminosa
Que PodeAjudar
A Proteger a Floresta

Com as facturas da electricidade e do telefone, recebes PUBLICIDADE. Não a deites fora!
GUARDA-A, junta-a e reenvia-a aos respectivos serviços. Deixa que sejam eles a deitá-la no lixo!
Recebes correio para empréstimos, cartões de crédito… ou “ negócios “, muitas vezes acompanhados de ENVELOPES DE RESPOSTA PAGA…. Em vez de os deitares no lixo, mete essas inutilidades nos tais envelopezinhos e põe-nos no correio!
Envia: a publicidade do mecânico automóvel… ao teu operador telefónico; os cupões de desconto de pizzas ao… teu banco; as promoções do supermercado a… quem tu quiseres! E sem remetente. Verifica sempre se algum dos teus dados pessoais não figura num destes documentos devolvidos. Podes também… enviar o envelope de resposta paga, VAZIO ! ! !
Que tal?! Se todos fizermos isto… Os bancos, as instituições de crédito e outros, receberão de volta todas as porcarias que nos enviaram. Eles que as apreciem! Pagarão eles próprios as franquias, e 2 vezes: o envio e a devolução!
Uma maneira simples de ter menos resíduos… de preservar o planeta e as nossas florestas! Não custa tentar e até pode ser divertido!


Recebido por mail.

segunda-feira, julho 03, 2006

Petição Um Milhão de Rostos

Existem 639 milhões de armas no mundo - uma arma para cada dez pessoas. Todos os anos morrem em média 500.000 pessoas vítimas de violência armada - uma pessoa por minuto! Assinei esta petição e sei agora que a mesma já foi entregue. Esperemos que não caia em "saco roto"! A confirmação da entrega, na minha caixa de correio

Secretário Geral das Nações Unidas recebe a maior petição visual alguma vez realizada, pedindo um maior controlo no comércio de armas A Petição Um Milhão de Rostos, que contem mais de um milhão de fotografias de pessoas de 160 países foi entregue, no dia 26 de Junho, a Kofi Annan por Julius Arile, um sobrevivente de violência armada do Quénia. Os activistas da campanha "Controlar as Armas" ergueram uma AK-47, construida com próteses, homenageando as vítimas de violência armada que vêm a sua vida afectada para sempre. Foi ainda construido um painel com as fotografias recolhidas em todo o mundo. Julius Arile disse a propósito desta campanha: "Fui a milionésima pessoa a aderir á Petição. Fi-lo porque o meu país, o Quénia, tem sofrido demasiado por causa das armas de pequeno porte. Gostaria que esta conferência chegasse a um acordo sobre os princípios globais para a venda de armas. Temos o dever de dar este passo, por causa das pessoas em todo o mundo que, como eu, sofreram por causa das armas". Ao receber a Petição Kofi Annan afirmou: "Transmitirei este apelo por um tratado sobre o comércio de armas ao Presidente da Conferência de Revisão para que informe todos os Estados Membros. Estará nas suas mãos decidirem o futuro desta iniciativa. Espero que esta petição simbolize a forma como os governos e cidadãos podem trabalhar juntos para alcançar o objectivo fundamental desta conferência – ou seja – salvar vidas." Veja as imagens da entrega e acompanhe o desenvolvimento desta Conferência em www.controlarms.org/events/unreview.htm Mais uma vez, Obrigada por ter participado! Luisa MarquesCoordenadora de Campanhas e EstruturasAmnistia Internacional PortugalTelf: 21 386 16 52Fax: 21 386 17 82e-mail: l.marques@amnistia-internacional.pt----------------------------------------Apoie a implementação de um Tratado Internacional que regule o Comércio de Armas. Seja um num Milhão: www.controlarms.org


domingo, julho 02, 2006

Lei das Finanças Locais

O burro, de novo...
om a pompa do costume, o ministro António Costa anunciou no início desta semana o projecto governamental da nova Lei das Finanças Locais (LFL). No dia seguinte, três jornais ditos de referência titulavam a coisa, sempre ao alto da primeira página:
Autarquias vão poder aliviar contribuintes de 3% do IRS, proclamava o Diário de Notícias (DN);
Municípios vão ter autonomia para baixar IRS até 3 por cento, gritava oPúblico;
Câmaras ganham poder para baixar IRS, troava o Diário Económico (DE), fazendo mesmo questão de repartir o espaço com uma foto do ministro a mexer em papéis com toda a competência.
O País que se fica por uma mirada às primeiras páginas dos escaparates terá concluído que o Governo havia decidido conceder às autarquias a «autonomia» (segundo o Público) ou o «poder» (na exuberância do DN e do DE) para «baixar o IRS», novidade ainda mais extraordinária se o País se lembrar do constante incumprimento governamental da LFL, reduzindo sempre e ainda mais os já parcos recursos financeiros descentralizados para o Poder Local.
Provavelmente, o País nem terá reparado na curiosa coincidência de os três jornais «de referência», com tiragens e coberturas nacionais, todos militando no famoso «pluralismo informativo», haverem titulado a notícia tão da mesma maneira, que praticamente o que as distingue é a distância semântica que separa os vocábulos «autonomia» e «poder».
Seja como for, todos os títulos conduziram os leitores à conclusão de que a revisão da LFL anunciada pelo ministro Costa assenta essencialmente no objectivo de dar poder às autarquias para reduzir o IRS .
Quem se dê ao trabalho de ler o interior, verificará que o próprio ministro garante isso mesmo, dizendo textualmente que a «ideia» da nova LFL «não é o Estado reduzir as transferências, mas sim introduzir maior justiça na distribuição». Sabem como? O mesmo António Costa explica no DN: «Com a anterior Lei os municípios recebiam 30,5% do total cobrado de IRS, IRC e IVA. No novo enquadramento recebem cumulativamente 25% destes três impostos» e «a isto acresce a participação, só sobre o IRS, de 5%» - sendo aqui que reside o famoso «poder» das autarquias em «diminuir o IRS» pois, segundo esta proposta, passarão a ficar com «5% sobre a colecta líquida do IRS» mas onde apenas 2% «serão fixos», dando-se às câmaras a «possibilidade» de «oferecerem aos munícipes» os 3% restantes, embora o Governo não diga onde vão depois os municípios recuperar essa verba «doada»....
Em resumo: o que o ministro Costa veio, realmente, anunciar é que a nova LFL vai cortar as transferências financeiras para as autarquias, passando-as dos actuais 30,5% do total cobrado nos impostos do IRS, IRC e IVA para uns futuros 25%, «compensando» essa perda brutal de 5,5% das receitas de três impostos com uns meros 2% de um único (o IRS), acompanhados pela quase obrigação de as câmaras prescindirem de mais 3% do mesmo IRS «a favor» dos munícipes (e eleitores, pois claro...).
De tudo isto, o que os jornais «de referência» destacaram foi o «novo poder das câmaras para baixar o IRS». Não há dúvida que a multidão de assessores de imprensa, pagos a peso de ouro como foi há dias noticiado e que enxameia o Governo de Sócrates, sempre serve para alguma coisa...
Quanto ao engenho do ministro António Costa em transformar um corte orçamental numa «justiça de distribuição», palavras para quê? Trata-se do mesmo criativo que há uns bons anos, para provar o óbvio nos engarrafamentos da Calçada de Carriche, pôs um burro a competir com um Ferrari.
Glosando um texto da época, parece que o «burro do Costa» atacou de novo...

Henrique Custódio in "Avante"