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onge vão os tempos em que as empresas eram os únicos clientes dos bancos comerciais e os de investimentos não "prestavam" os seus serviços se não às grandes sociedades. Depois, a corrida desenfreada aos lucros levou-os cada vez mais a "oferecer" os seus serviços a vastos sectores das camadas médias, a largos sectores de assalariados, etc...
Já nos primeiros anos do século XX, Lénine, nos seus estudos sobre o imperialismo, analisava este fenómeno e escrevia: Os bancos recolhem, ainda que temporariamente, os rendimentos em dinheiro de todo o género, tanto dos pequenos patrões como dos empregados... Os bancos... reunem toda a espécie de rendimentos em dinheiro colocando-o à disposição da classe capitalista. (1)
Nas últimas dezenas de anos, contudo, esta actividade proliferou. No nosso país, por exemplo, e muito particularmente nestes últimos anos de política de reprivatizações dos recentes governos de direita, os bancos (nacionais e estrangeiros) multiplicaram as suas agências por todo o lado, em cada rua, em cada esquina, por vezes lado a lado, frente a frente. É uma autêntica corrida para recolher o máximo de depósitos de empresários, quadros técnicos, empregados, trabalhadores, estudantes, reformados e pensionistas, donas de casa. Esta actividade de "retalhista" é das mais lucrativas. Os lucros realizados pelos bancos neste campo, permitem-lhes aumentar os seus recursos e acelerar o processo de concentração do capital nas suas mãos. Longe vão os tempos em que a própria selva do capital tinha as suas leis. Longe vão os tempos em que cada banco tinha a sua "coutada" reservada e onde os seus concorrentes não ousavam sequer caçar às escondidas.
Mas não vá o leitor pensar que digo isto com saudosismo. Não! Trata-se apenas de uma simples constatação, porque hoje, vale tudo, como se pode ver apenas por alguns anúncios, dos muitos que diariamente nos entram casa dentro através da televisão, vezes sem conta, ou enchem as páginas dos jornais e das revistas, usando em alguns casos "artistas" mais ou menos conhecidos da nossa praça: "Deixe de adiar o seu sonho"; "Eu estou aqui!"; "Ou tem pais ricos ou foi ao..." ; "Podemos dar-lhe o primeiro carro, o modelo da sua marca de carro, aquela mota espectacular, a câmara de vídeo, aquela escultura, o tal quadro..."; "Habilite-se aos sorteios mensais. Há dinheiro a ganhar e não há tempo a perder"; "Abra já uma conta desportista, habilite o seu filho. Além de ganhar, ele pode escolher os artigos desportivos que quiser", etc...
Excedem-se em zelos surpreendentes! Preocupam-se com tudo e com todos. Com os negócios, a habitação, as viagens de lazer, as reformas, os tempos livres, o carro, a moto, o vídeo, as esculturas, os quadros, as bolas de ping-pong e as raquetas de ténis. Preocupam-se com os velhos, os menos velhos, os novos, os jovens, as criancinhas.
E o portuguesinho vai aderindo, vai contrbuindo para o aumento do "bolo", vai-se endividando, vai perdendo o controle e é ele que entra na banca rôta...
Será que ninguém vê que são tantas as benesses que prometem que é caso para lembrar o velho ditado popular: "quando a esmola é grande até o pobre desconfia"?
(1) - Obras Escolhidas de Lénne, Edições Avante, I vol., pg. 597.