"Os desabafos que se seguem têm seguramente todas as desvirtudes dos desabafos: para pouco servem e arriscam-se a não encontrar grandes concordâncias. Apesar de tudo, não devem ficar abafados..."
sábado, julho 14, 2007
terça-feira, julho 10, 2007
Jorge Palma
Encosta-te a mim, desatinamos tantas vezes
vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal
recebe esta pomba que não está armadilhada
foi comprada, foi roubada, seja como for
Eu venho do nada porque arrasei o que não quis
em nome da estrada onde só quero ser feliz
enrosca-te a mim, vai desarmar a flor queimada
vai beijar o homem-bomba, quero adormecer
Tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo
o que não vivi, um dia hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim
Encosta-te a mim, nós já vivemos cem mil anos
encosta-te a mim, talvez eu esteja a exagerar
encosta-te a mim, dá cabo dos teus desenganos
não queiras ver quem eu não sou, deixa-me chegar
Chegado da guerra, fiz tudo p´ra sobreviver
em nome da terra, no fundo p´ra te merecer
recebe-me bem, não desencantes os meus passos
faz de mim o teu herói, não quero adormecer
Tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo
o que não vivi, hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim
sexta-feira, julho 06, 2007
O que eu gostaria de ter escrito
"Eu cá por mim até acho que o médico do centro de saúde que escreveu a nota jocosa sobre Correia de Campos e a directora que não a foi arrancar a correr, mereciam um louvor do Estado."A
Fazem-nos pagar taxas se formos operados, porque não é castigo suficiente estarmos doentes e termos de ir à faca. E não podemos rir? Fecham urgências por falta de clientela onde os privados querem abrir porque – adivinhem lá – têm clientela. E não podemos rir? Anulam direitos de acesso à saúde conquistados há décadas. E não podemos rir?
Eu cá por mim até acho que o médico do Centro de Saúde de Vieira do Minho, que escreveu a nota jocosa sobre Correia de Campos, e a directora que não a foi arrancar a correr (sim, porque mandou retirar, só que não foi tão rápida como o ministro acha que devia ter sido), mereciam um louvor do Estado. Há lá sítio neste País que precise mais de sentido de humor do que um centro de saúde? Bem, as escolas, se calhar... E daí, talvez não. Parece que o Governo ainda não se lembrou de atacar o sentido de humor das crianças. Mas é melhor pararmos por aqui, senão ainda lhes damos ideias.Primeiro vem o Primeiro-ministro, José Sócrates, pactuar com a suspensão de um professor porque terá insultado o chefe do Executivo. Depois é o ministro da Saúde que decide a destituição da directora de um centro de saúde porque – reparem bem, trata-se de um acto gravíssimo – não mandou retirar, com grande urgência, um papel que era pouco simpático para Correia de Campos. Francamente, já não há pachorra para este Governo de ofendidinhos!
A Ponte 25 de Abril (eu sei, parece que não tem nada a ver, mas já vão ver que tem) foi construída de maneira a oscilar porque se fosse totalmente rígida, quebrava. O Primeiro-ministro, que ainda por cima faz tanta questão em ser engenheiro, tinha obrigação de saber que o que não é flexível, parte.
PS: As minhas desculpas pela ausência tão prolongada deste espaço de crónicas. É que andei um bocado ocupada a retirar das redacções os cartazes com dizeres jocosos sobre o Governo. Mas, espera lá, eles já nos tiraram a Caixa de Jornalistas, já instalaram um clima de terror tal no País todo que qualquer dia não temos fontes para os nossos artigos. O que é que nos podem fazer mais? Se calhar vou estar ausente mais uns tempos – tenho umas coisas para pendurar...
Isabel Nery, in Visão.